Até Amanhã
Sei
agora como nasceu a alegria, como nasce o vento entre barcos de
papel, como nasce a água ou o amor quando a juventude não é uma
lágrima.
É primeiro só um rumor de espuma à roda do corpo que
desperta, sílaba espessa, beijo acumulado, amanhecer de pássaros no
sangue.
É subitamente um grito, um grito apertado nos
dentes, galope de cavalos num horizonte onde o mar é diurno e sem
palavras.
Falei de tudo quanto amei. De coisas que te dou para que
tu as ames comigo: a juventude, o vento e as areias.
Eugénio de
Andrade, in "Até Amanhã"

|