Jesus chorou
©
Letícia Thompson
Ao
ver Jerusalém desolada, Jesus chorou.
Ele
poderia não ter se importado, ter olhado para outros lados.
Mas
Ele olhou, se importou, chorou...
A
desolação, a maldade, crueldade, incredulidade, não podem deixar ninguém
indiferente.
Com a
velocidade com que as coisas caminham, eu pensei já ter visto tudo.
Mas
ainda coisas acontecem que arrancam meu coração do
peito.
O
desrespeito à vida tem tomado o lugar do amor e tem enchido o mundo de trevas,
dessas mesmas que tentamos tanto
fugir.
Poderíamos fazer como se nada tivesse acontecido.
Poderíamos, como se diz a boa regra, pensar apenas nas
coisas boas da vida.
Mas
isso não vai acalmar a dor das famílias ceifadas de um ente querido.
Fechar os olhos e o coração não vai resolver problemas,
não
vai acabar com a violência,
não
vai diminuir o mal e nem impedi-lo de atingir um dos nossos.
Ignorar a dor alheia é endurecer o
coração.
É se
dar a si a falsa idéia de que tudo vai bem,
quando na verdade há corações despedaçados e que poderiam
perfeitamente ser nossos.
Não
gostaríamos que ignorassem nosso sofrimento e muitos carregando a mesma cruz a
tornam mais leve.
Se
nos calamos, nos expomos, nos despreparamos, tornamo-nos vulneráveis e
acessíveis.
Sobretudo, se nos calamos, aceitamos o horror do
irreparável, do absurdo.
Se
nos calamos, acatamos.
E não
temos esse direito... não podemos ter esse direito.
Uma
só pessoa pode não fazer muito,
mas
uma nação inteira pode fazer alguma coisa,
se
cada qual toma sua parte de responsabilidade.
Não
podemos devolver vidas, nem apagar acontecidos.
Podemos, porém, tentar impedir que outras coisas
aconteçam.
Podemos continuar humanos, unidos na dor, mas,
principalmente, unidos no amor.
Uma
vela sozinha pode não acabar com a escuridão,
mas
milhões de velas acesas podem iluminar qualquer noite de lua minguante.
Letícia Thompson
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