Ode a Eros
Eros, Cupido, Amor, pequeno Deus
travesso Com quem todos brincamos! Brincando nos ferimos,
Ferindo-nos gozamos, Se rimos já choramos, Mal que choramos rimos...
Já, voltados do avesso, Por igual o voltamos, O torturamos nós como
ele nos tortura, Descemos aos recessos da criatura...
Pequenino
gigante! Sonhava, ou não sonhava, Quem te representou risonho e
pequenino Que de Hércules a clava Não pesa como pesa a tua mão de
infante, Nem seu furor destrói Como nos dói Teu riso de menino?
Nas tuas leves setas Nas flmulas gentis Que cantam os poetas
E os namorados juvenis, Que longos ópios e letais licores, Que
pntanos de lodo e que furores, Que grinaldas de louros e de espinhos,
Que abissais labirintos de caminhos!
Mascarilha de seda e de veludo
Sob a qual o olhar brilha, a boca ri, Que olhar ambíguo ou mudo, Que
boca atormentada Não terás além ti Na mascarada?
Pai da
Crueldade e da Piedade, Filho do Crime e da Beleza, Que infante serás
tu, que, desde que há Idade, Aos Ícaros opões a mesma astral parede, E
os Lázaros susténs dos restos dessa mesa Em que se bebe sempre a mesma sede,
Se come A mesma fome?
Divindade nocturna Que te cinges de
rosas, Suprema fúria mascarada Que a porta abres do céu... escancarada
Sobre o negro vazio duma furna, Que a urna de cristal nas mãos formosas
Vens ofertar às bocas sequiosas E escorres sangue do cristal da urna,
Que tens tu afinal, ao fundo da caverna Sempre aos mortais vedada: A
eterna morte... o nada, Ou a vida eterna?
José Régio
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