Para Charles
Chaplin
Uma
cega te ama. Os olhos abrem-se.
Não,
não te ama.
Um
rico, em álcool,
é teu
amigo e lúcido repele
tua
riqueza. A confusão é nossa, que esquecemos
o que
há de água, de sopro e de inocência
no
fundo de cada um de nós, terrestres. Mas, ó mitos
que
cultuamos, falsos: flores pardas,
anjos
desleais, cofres redondos, arquejos
políticos acadêmicos;
convenções
do
branco, azul e roxo; maquinismos,
telegramas em série, e fábricas e
fábricas
e
fábricas de lmpadas, proibições, auroras.
Ficaste apenas um operário
comandado pela voz colérica do
megafone.
És
parafuso, gesto, esgar.
Recolho teus pedaços: ainda
vibram,
lagarto mutilado.
Colo
teus pedaços. Unidade
estranha é a tua, em mundo assim
pulverizado.
E
nós, que a cada passo nos cobrimos
e nos
despimos e nos mascaramos,
mal
retemos em ti o mesmo homem,
aprendiz
bombeiro
caixeiro
doceiro
emigrante
força
do
maquinista
noivo
patinador
soldado
músico
peregrino
artista de circo
marquês
marinheiro
carregador de piano
apenas sempre entretanto tu
mesmo,
o que
não está de acordo e é meigo,
o
incapaz de propriedade, o pé
errante, a estrada
fugindo, o amigo
que
desejaríamos reter
na
chuva, no espelho, na memória
e
todavia perdemos.