Quantas vezes, Amor, me tens
ferido?
Quantas vezes, Amor, me tens
ferido?
Quantas vezes, Razão, me tens
curado?
Quão
fácil de um estado a outro estado
O
mortal sem querer é conduzido!
Tal,
que em grau venerando, alto e luzido,
Como
que até regia a mão do fado,
Onde
o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido:
Para
que o nosso orgulho as asas corte,
Que
variedade inclui esta medida,
Este
intervalo da existência à morte!
Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;
É lei
da natureza, é lei da sorte,
Que
seja o mal e o bem matiz da vida.
Bocage
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