TRISTEZA DO INFINITO
"Anda
em mim, soturnamente, uma tristeza ociosa, sem objetivo, latente,
vaga, indecisa, medrosa. Como ave torva e sem rumo, ondula, vagueia,
oscila e sobe em nuvens de fumo e na minh'alma se asila.
Uma
tristeza que eu, mudo, fico nela meditando e meditando, por tudo e
em toda a parte sonhando.
Tristeza de não sei donde, de não sei
quando nem como... flor mortal, que dentro esconde sementes de um mago
pomo.
Dessas tristezas incertas, esparsas, indefinidas... como
almas vagas, desertas no rumo eterno das vidas.
Tristeza sem causa
forte, diversa de outras tristezas, nem da vida nem da morte gerada
nas correntezas...
Tristeza de outros espaços, de outros céus, de
outras esferas, de outros límpidos abraços, de outras castas primaveras.
Dessas tristezas que vagam com volúpias tão sombrias que as
nossas almas alagam de estranhas melancolias.
Dessas tristezas sem
fundo, sem origens prolongadas, sem saudades deste mundo, sem
noites, sem alvoradas.
Que principiam no sonho e acabam na
Realidade, através do mar tristonho desta absurda Imensidade.
Certa tristeza indizível, abstrata, como se fosse a grande alma
do Sensível magoada, mística, doce.
Ah! tristeza imponderável,
abismo, mistério, aflito, torturante, formidável... ah! tristeza do
Infinito!"
[Cruz e Sousa]
|