BICHINHO DE CONTA
Chiuuuuuuuuuuuu... não façam barulho, Nem sequer em
pensamento... Que ninguém levante a voz Ainda que por um momento...
E mesmo o respirar, Que seja lento... e devagar, Sem qualquer
borburinho...
É que hoje não vim sózinha! Hoje trago comigo as notas
De uma canção só minha. E trago _ pasmem! _ na mão, Um pedaço do
coração muito muito enroladinho, Aconchegado em carinho No ninho de
uma doce visão...
( Tão tua... Tão minha...)
Dorme sereno...
tranquilo... Porém, mantém o sorriso Da cor dos sonhos Que já
viveu... O tom pálido é do luar Que não vê ao acordar, Mas que um
dia o adormeceu...
Em jeito de bichinho-de-conta!...
E sonha...
sonha sorrindo... Sonha com algo divino Que um dia aconteceu No
céu... No dia em que a Lua nasceu, Na noite em que o Sol não morreu,
E ambos viveram abraços E foram doce apogeu...
Chiuuuuuuuuuuuu... parece acordar... Não se lembrem de o assustar
Que ele é um bichinho-de-conta... Se o assustam ele enrola E já não
quer despertar...
Serenou... vejo que começa a abrir... Vou tentar
que fique calmo, Mas não me pode sentir... Vá... todos lá para fora
Que é chegada a hora De eu lhe falar de amor!... E não lhe posso
tocar Antes que sinta no ar O gosto doce do calor, Que o sabe
serenar... Vá, vão sem demora...
Vem cá, meu amor, agora, Que os
outros foram embora E já podes espreguiçar... Desenrola em mil mãos
O teu corpo... Bebe esta lágrima que rola solta de um turbilhão
Que imola no fogo desta paixão A saudade que em mim mora! Cresce em
mil braços E apaga com eles os espaços Que em meu corpo não estás...
Não esqueças a alma, também, Que embora pareça calma, Paz é coisa
que não tem...
Isso... assim... Agora está tudo bem... Já podes
entrar Em mim!...
Chiuuuuuuuuuuu... não digas nada, Que eles
estão todos lá fora... Faz-de-conta que enrolaste E que nem sequer me
tocaste... Que se vão já todos embora!
Para nós fica o segredo
De que o meu bichinho-de-conta... Sabe amar sem medo!...
Para
nós, fica o segredo!...
Cris (Sonhos em Tempos de
Lua)
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