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O desabafo
©
Letícia Thompson
Poucas coisas são tão pesadas quanto as palavras e
emoções que carregamos dentro de nós. São coisas que não podemos colocar no chão
para descansar um pouco e pegar depois, com forças renovadas. Elas nos seguem e,
por que não dizer, nos perseguem.
As
vezes nos sentimos pequeninos sim. As vezes queremos não dizer nada, estar
simplesmente nos braços de alguém e fechar os olhos e outras, gostaríamos de
gritar nossa dor, nossa revolta e deixar que as lágrimas façam caminho no nosso
rosto.
Mas
nos calamos... por que reconhecer nossa fragilidade diante de outra pessoa é
expôr-se, entregar-se a ela, na nudez da alma. E por pudor, medo, vergonha ou
orgulho, não queremos isso.
Portanto, a fragilidade não está em mostrar-se frágil. Só
os fortes são capazes de reconhecer suas fraquezas para melhor lidar com elas.
Ser forte é desenvolver a capacidade de lidar com as emoções, que corroem o ser
como uma doença incurável.
Desabafar é abrir as portas do coração e as janelas da
alma. Deixar sair o ar fechado e entrar o sol. É soltar palavras e acolher
alívio; é partir para o grande vôo da liberdade que todo mundo
anseia.
Mas,
claro, é preciso sabedoria para se saber onde vamos. Não podemos sair por aí
proclamando a todo mundo que temos situações mal resolvidas dentro de nós. Temos
que escolher cuidadosamente as pessoas que são capazes de nos receber com
maturidade, sem julgamentos.
Há
pessoas que nos fazem crescer. Os grandes amigos estão incluídos nessa
categoria. A eles então nossas portas podem ser abertas e as palavras poderão
fluir, até que nos sintamos mais leves.
E há
ainda e, principalmente, Aquele que mesmo conhecendo nosso íntimo melhor ainda
que nós, aceita e pede que nosso coração se abra.
Ele
nos pega nos braços, seca nossas lágrimas e nos carrega no colo. Ele nos leva
até a praia e nos nos apresenta o raiar do dia e o pôr-do-sol... nos diz que a
natureza também dorme, acorda e chora às vezes, mas que assim é a vida e que o
importante mesmo é continuar de pé, buscando um mundo
melhor.
Letícia Thompson
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