CALA CORAçãO
CLEIDE CANTON
Cala, coração! Emudece de vez,
recolhido no teu solitário canto
sem descobrir o que fez ou não fez
enjaulado nas redomas do teu pranto.
Cala, coração! Escuta a velha voz
que te conclama, urgentemente, à razão,
buscando desatar a fúria dos nós
do entrave funesto dessa amarração.
Cala, coração! A hora é mais que certa
para abrir-se ao som da suave melodia
que a expressão do teu real amor liberta
para ondas mansas da tua poesia.
Cala, coração! Deixa logo correr
esse rubro líquido da fantasia
no sonho que tornará a acontecer
no amanhecer sagrado de um novo dia.
Cala, coração! Enterra o luto e a dor
da derrota passiva, crua e severa
abrindo-te, livre, para o som do amor
que canta alto, ofuscante, a tua espera.
E grita, coração, grita a alegria
do romper do embrião da aurora dourada
que te espera, ofuscante, dia após dia,
no vale azul em festa da tua estrada.
Vibra, coração! Vibra e não mais espere
o adormecer eterno do teu poente,
onde a lança mortal na angústia te fere,
levando a futuro incerto o teu presente.