Cleide Canton
Se te fazes senhor do meu apreço,
se ofertas sem penhor teu ombro amigo,
mansamente há de entrar o que mereço
pela porta, nesta noite que bendigo.
Bem o sei que sonhar tem o seu preço,
que viver por viver já não consigo.
Mas se ousas auscultar o meu avesso
verás o bem maior qu'inda persigo.
Se a chama do desejo acende ainda,
se é bela a minha sempre fantasia,
a febre que me toma é bem-vinda.
Pecado bem maior é a covardia!
A trama do passado se fez finda,
nas noites que teceram harmonia.
E a taça do prazer reluz e brinda
ao toque desta nossa sintonia.
Sem luz todas as cores são profanas,
perdidas em falácias dormideiras.
à luz acordam vozes suburbanas
tranquilas, livres, soltas, verdadeiras.
Razões já não nos faltam. Soberanas,
desfilam sem pudor, erguem bandeiras,
enquanto as ovações já doidivanas
se perdem como nuvens passageiras.