SÓ AGORA
Jota Há
Ele foi um sábio, mas eu e todas as demais pessoas de sua convivência não sabíamos. É assim, é por este motivo que as homenagens merecidas sao prestadas sempre pós-morte. Poucos, ou quase nenhum sábio ou herói, sao reconhecidos em vida. Assim sendo, o personagem central, o autor do feito, não desfruta nada, nada, da opiniao da humanidade, assim como, não sofre os dissabores das críticas maldosas dos incompetentes.
Calma! Calma! Não precisa vocês ficarem tentando adivinhar sobre quem eu estou me referindo. Com todo prazer e, com alguns detalhes, contarei quem foi essa pessoa. Prova cabal de que o argumento que estou usando é verdadeiro, sao passados diversos anos da sua morte e só agora estou reconhecendo e vou tentar expor a sua grande sabedoria. Esticar demasiadamente um preâmbulo é obra de quem nao sabe muito bem o que vai escrever. Daí ficar enrolando, enrolando, escrevendo muito sem nada dizer. Portanto, eis o que eu prometi sem rodeios dizer para vocês.
Estou falando sobre o meu saudoso pai, um sábio e herói que vocês não chegaram a conhecer. Quanto aos seus feitos e suas sábias previsoes, só agora, depois de muitos anos de sua morte eu as começo reconhecer. Para que vocês possam tomar parte deste assunto e também comecem a entender, eu vou me dar ao trabalho de certos detalhes aqui esclarecer.
Eu e o meu irmao éramos, na época, bastante jovens, e, certas coincidências, vocês teriam que ver para poder crer. Houve esta que vou relatar para que possam saber.
Em um belo fim-de-semana levamos as namoradas para que conhecessem a casa dos nossos pais. Ao apresentá-las, nossa mae dispensou toda aquela atençao, já o nosso pai fez aquela cara de quem gostaria, mesmo sem ter certeza do motivo, de nos dar uma surra de vara. É... Hoje eu sei o que vocês estão pensando agora, tenho certeza que foi exatamente o que na época ele pensou. Ele nao disse nada na hora. Só para nós dois o seu azedume ele demonstrou. Nao deu chance, junto conosco o tempo todo ficou. Para levá-las para casa já bastante tarde da noite, ajudar-nos ele se prontificou. Entramos em seu carro e as duas moças na porta de suas casas ele as deixou. Dizer “tchau” foi a única coisa que para nós dois restou.
Volta, sim houve a volta, foi quando aconteceu a preleçao, distância de dez a doze quilômetros nao tivemos a chance de dizer um ai, nem eu nem o meu irmao. Durante todo o trajeto só ouvimos as recomendaçoes. Ele dizia e frisava, sempre com ênfase na sua argumentaçao: “Nunca mais façam o que vocês fizeram hoje, isso não pega bem. As famílias dessas moças sabiam das suas programaçoes? Se elas sabiam, estao erradas, mas menos mal para a burrice dos dois. Agora, se não sabiam os resultados vocês só ficarao sabendo depois.”
“Quero deixar bem claro que nao tive, não tenho e nunca vou ter a intenção de atrapalhar os dois. Apenas com minha experiência, cá estou para testemunhar o procedimento e, durante todo o tempo estive presente para evitar que alguém, principalmente os responsáveis interessados julguem sem conhecimento.”
“Depois desta experiência que ocorreu vocês aprendam uma coisa. O sexo oposto há séculos vem tentando, ainda nao conseguiram, mas se receberem a atençao e o tratamento que vocês estao dispensando, logo, logo, elas estarao dominando. Portanto tomem cuidados, eu nao vou estar sempre com vocês para certas coisas evitar.”
Só depois de certos anos essa previsao de sábio está se confirmando. Como comprovante disso, prestem atenção no que a seguir estou relatando: Dias passados, uma colega em seu carro, estava me transportando. Antes do caminho de casa tínhamos que parar o carro no pátio de um banco para efetuar o depósito de um cheque. Assim foi feito. Tao logo ela estacionou o carro, logo em seguida veio outro também dirigido por uma moça, que na paralela ficou. O espaço não dava para abrir as duas portas ao mesmo tempo, ou seja, a minha e a da outra motorista. Foi aí que eu me recolhi e olhando para a moça, brincando eu falei: “Por favor, abra a sua, eu sou do tempo em que às damas tinham todas as preferências.”
Pasmem agora, prestem atenção no absurdo que eu ouvi: “E eu sou do tempo que a mulher é quem manda...”
Meu pai tinha ou não tinha razao? Ele foi um sábio sim!
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