O BURRO DE CARGA
Neio Lúcio
No tempo em que não havia automóveis
na cocheira de famoso palácio real
um burro de carga curtia imensa amargura,
em vista das pilhérias e remoques dos companheiros de apartamento.
Reparando-lhe o pelo maltratado,
as fundas cicatrizes do lombo e a cabeça tristonha e humilde,
aproximou-se formoso cavalo árabe,
que se fizera detentor de muitos prêmios.
- Triste sina a que você recebeu!
Não Inveja minha posição nas corridas?
Sou acariciado por mãos de princesas
e elogiado pela palavra dos reis!
- Pudera!
- como conseguirá um burro entender
o brilho das apostas e o gosto da caça?
O infortunado animal
recebia os sarcasmos, resignadamente.
-Esse burro é um covarde!
Sofreu nas mãos do bruto amansador,
sem dar ao menos um coice.
É vergonhoso suportar-lhe a companhia
Outro soberbo cavalo, de procedência húngara,
entrou no assunto e comentou:
Um jumento espanhol acercou-se e acentuou sem piedade:
- Lastimo reconhecer neste burro um parente próximo.
É um desonrado, fraco, inútil...
Desconhece o amor-próprio.
Eu só aceito os deveres dentro de um limite;
Se abusam, pinoteio e sou capaz de matar.
As observações insultuosas não haviam terminado,
quando o rei penetrou o recinto,
em companhia do chefe das cavalariças.
- Preciso de um animal para serviço de grande responsabilidade
- informou o monarca -,
animal dócil e educado, que mereça absoluta confiança.
O empregado perguntou:
Não prefere o árabe, Majestade?
- Não, não - falou o soberano -,
é muito altivo e só serve para corridas em festejos oficiais
sem maior importância.
- Não quer o potro inglês?
- De modo algum.
É muito irrequieto e não vai além das extravagâncias da caça.
- E o húngaro? Não deseja o húngaro?
- Não, não. É bravio, sem qualquer educação.
É apenas um pastor de rebanho.
- O jumento serviria? - insistiu o servidor atencioso.
- De maneira nenhum.
É manhoso e não merece confiança.
Decorridos alguns instantes de silêncio, o soberano indagou:
- Onde está o meu burro de carga?
O chefe das cocheiras indicou-o, entre os demais.
O próprio rei puxou-o carinhosamente para fora,
mandou ajaezá-lo com as armas resplandecentes de sua Casa e
confiou-lhe o filho, ainda criança, para longa viagem.
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Assim também acontece na vida.
Em todas as ocasiões, temos sempre grande número de amigos, de conhecidos e companheiros, mas somente nos prestam serviços de utilidade real aqueles que já aprenderam a suportar servir e sofrer sem cogitar de si mesmos.
Livro “A Vida Fala II”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
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UMA FELIZ SEMANA DE PAZ E SAÚDE A TODOS!
BEIJOS 1000!
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