Mater dolorosa
Castro Alves
Meu Filho, dorme, dorme o sono eterno No berço imenso, que se chama - o céu. Pede às estrelas um olhar materno, Um seio quente, como o seio meu.
Ai! borboleta, na gentil crisálida, As asas de ouro vais além abrir. Ai! rosa branca no matiz tão pálida, Longe, tão longe vais de mim florir.
Meu filho, dorme Como ruge o norte Nas folhas secas do sombrio chão! Folha destalma como dar-te à sorte? É tredo, horrível o feral tufão!
Não me maldigas... Num amor sem termo Bebi a força de matar-te a mim Viva eu cativa a soluçar num ermo Filho, sê livre... Sou feliz assim...
- Ave - te espera da lufada o açoite, - Estrela - guia-te uma luz falaz. - Aurora minha - só te aguarda a noite, - Pobre inocente - já maldito estás.
Perdão, meu filho... se matar-te é crime Deus me perdoa... me perdoa já. A fera enchente quebraria o vime... Velem-te os anjos e te cuidem lá.
Meu filho dorme... dorme o sono eterno No berço imenso, que se chama o céu. Pede às estrelas um olhar materno, Um seio quente, como o seio meu.
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