A REAçãO DO HOMEM QUE
NãO REAGIA
(Autor: Antonio Brás Constante)
Ariovaldo escutava sempre a mesma frase
de seus conhecidos: “reage homem!”, é o
que eles diziam. E falavam com razão.
Tinham pena do pobre homem, que não
reagia a nada. Sua mulher vivia brigando
com o pobre infeliz, xingando-o e fazendo
ele padecer em suas mãos. Muitos já teriam
virado a mesa e feito a megera se calar, mas
não o Ariovaldo. Ele não reagia aos desmandos
de sua esposa, agüentando calado sua triste sina.
No serviço não era diferente. O seu chefe
maltratava o coitado. Mandava-o executar as
piores tarefas. Gritava com ele. Era grosseiro e
estúpido. Os colegas sacudiam a cabeça ao ver
aquela situação deplorável. Indignavam-se.
Chamavam o Ariovaldo em um canto e diziam,
quase em coro: “reage homem!”. Mas ele nada
fazia.
Suportando a tirania de seu chefe. E assim, era
a vida do Ariovaldo. Sofrer calado. Sem reagir
a nada.
Todos pisando nele, e ele deixando. Revidar,
nem pensar.
Até o dia em que resolveu reagir. Sua reação
foi mais que um ato de coragem, sendo
considerada como um ato suicida, por ter
reagido justamente a um assalto. O ladrão
apontou a arma para ele e mandou-o entregar
a carteira. Ele arregalou os olhos como se
estivesse tomado de cólera, avançando contra
o meliante que gritava:
“Não reage! Não reage!”. Resultado:
Levou três tiros.
No caminho para o hospital, dentro da
ambulância, os enfermeiros tentavam salvar a
sua vida, aplicando medicamentos, choques e
gritando: “reage homem!”. Mas Ariovaldo já
estava decidido: Não reagiria mais...
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