ANOSO
Jota Há
É da competência do ser humano.
Não sei por quê!
Todos, para enganar-se a si próprio,
sentem a necessidade de também enganar os seus semelhantes.
Que coisa mais triste:
tentamos fazer da exceção à regra.
Sabemos que o mundo está aproximadamente com seis bilhões de habitantes,
e sempre se lê sobre àquelas pessoas que se destacaram na velhice,
que produziram alguma coisa em idade avançada,
dá-se ênfase às exceções,
como se servissem de exemplos a serem seguidos.
Muito bem!
Meus sinceros aplausos para esses heróis que,
souberam e puderam,
mesmo na velhice,
produzir algo para a humanidade.
Eu pergunto:
o que representam dez pessoas para um universo de seis bilhões?
Por que não podemos aceitar o fato
de que as pessoas quando se tornam decrépitas
já produziram o que tinham que produzir,
ou então deixaram de produzir
– não foram competentes –,
assim como eu e a maioria das pessoas?
Querer,
desejar a longevidade
é algo que sabemos estar na cabeça de todos,
mas aceitar a decrepitude decorrente,
também se sabe que não consta dos planos de ninguém.
São os medos das pessoas
que produzem esses conselhos que,
você, depois de determinada idade
vai ouvi-los constantemente:
o que é isso fulano?
você ainda está inteiro,
tem tudo pela frente ainda;
levante a cabeça e siga em frente;
a vida só termina quando a gente morre.
Só que você já morreu,
é apenas uma questão de postura – na vertical ou na horizontal.
As citações sobre esses excepcionais é tão constante
que eu cheguei a decorá-los.
Tome caneta e papel,
anote-os,
para que você também possa verificar
que são sempre os mesmos.
Se não se contentar com os que eu relacionei,
tome a história escrita da humanidade,
vai encontrar mais uma meia dúzia, o resto é pura mitologia:
1º. Aos 100 anos, Grandma Moses: pintava;
2º. Aos 94 anos, Bertrand Russel: participava ativamente de campanha internacionais pela paz;
3º. Aos 92 anos, Bernard Shaw: escrevia a peça Farfetched Fables;
4º. Aos 91 anos, Eamon de Valera; foi presidente da Irlanda.
5º. Aos 89 anos, Mary Baker Eddy: chefiava a igreja da Ciência Cristã;
6º. Aos 89 anos, Albert Schweitzer: dirigia um hospital na África;
7º. Aos 87 anos, Konrad Adenauer: era chanceler da Alemanha;
8º. Aos 88 anos, Coco Chanel: era diretora de uma firma de figurinistas;
9º. Aos 83 anos, Johann Wolfgang von Goethe: terminava o seu Fausto;
10º. Aos 80 anos, George Burns: ganhava um prêmio da Academia de Artes Cinematográficas pelo seu desempenho em The Sunshine Boys.
É triste, mas é a realidade.
Não tentar tapar o sol com a peneira já seria uma pequena demonstração de inteligência.
“Na posição em que me encontro só vejo nobreza na canalha que menosprezei, e só encontro canalhas na nobreza que criei”.
Napoleão Bonaparte