O Sussurro do Grande Espírito Uma Viagem Xamnica * Dalton Campos Roque * O espírito da terra trepidou no vale de meu coração. Eu evoquei meu animal sagrado de poder E o tigre surgiu... E na terra eu dancei. Meu chacra cardíaco se expandiu e amou. O espírito da água lavou as entranhas de minha voz. Eu evoquei meu animal sagrado de cura E o lobo surgiu... E na água eu mergulhei Meu laríngeo abençoou e cantou a canção da alma. O espírito do fogo queimou as tolices de meu ego. Eu evoquei meu animal sagrado de sabedoria E o coelho surgiu... E na fogueira eu me aqueci e me consolei Meu chacra frontal se enxergou, me enxergou e questionou. E o espírito do vento soprou no vale de meu coração. Eu evoquei meu animal sagrado espiritual E a borboleta surgiu... E no prana eu meditei Meu chacra coronário transcendeu, sentiu, descobriu e calou. Uma fração de tempo melancólica se seguiu. Era a reflexão do coração. Circunspectos eles me observavam O tigre, o lobo, o coelho e a borboleta Se posicionavam nos quatro cantos cardeais. Eu me levantei a mirar a abóboda celeste. Ergui os braços qual as asas da água Como quem ameaça alçar vôo dentro do coração do Grande Espírito Que há milênios sussurra em minha consciência Eu cantei... Cantei e dancei louvando a natureza. Dancei e sorri dando graças. O tigre rugia como quem cantava comigo Minha coluna brilhou e um funil de luz me uniu ao cosmos Pelo alto de minha cabeça. A natureza me ungiu em cura eterna. E o lobo se aproximou... Ia e voltava em ritmo exaltando a lealdade Meus passos dançantes pulsavam com ele E uivávamos juntos. E o coelho me ensinou cautela e discrição. Postei as mãos rente a testa de olhos fechados. E a borboleta flutuou pelo alto de minha cabeça E ela me ensinou a flexibilidade do aprender a aprender E me disse para cometer apenas erros novos e evitar os antigos. E com respeito a natureza e humildade, dançando, cantando e orando. Eu, o tigre, o lobo, o coelho e a borboleta evocamos os elementares Antes, pedimos a presença e licença dos Devas Solares. E o tigre evocou os gnomos da terra E o lobo evocou as ondinhas da água E o coelho evocou as salamandras do fogo E a borboleta evocou os silfos do ar E eu evoquei o Grande Espírito, a Presença no céu de nossos corações. Uma reverência espontnea e infinita se instalou Os olhares daqueles seres extrafísicos se miravam Com as virtudes e potenciais dos olhares dos seres arquetípicos Plasmados em minha sutil realidade. E nossos olhares serenos se entrecruzaram naquela profunda reverência. E todos éramos um só no céu e terra do coração do Grande Imanente Que nos enviou um sábio Xamã Um único amor inefável nos unia E ficamos ali até o anoitecer em volta da fogueira dançando e cantando. E o sábio Xamã falou: “O conhecimento penetra na mente que se abre, Mas só a experiência pousa no coração que sente. O conhecer pode cegar o coração, Mas só a experiência real do coração que sente É capaz de abrir as janelas profundas da mente. Assim, a arrogncia serve para quem 'tudo sabe', mas nada sente.” E naquele Xamã eu via os olhos do mundo e o coração da humanidade Vi nele os pretos velhos, os pais fraternos, os mestres carinhosos, os Avatares, As mães amorosas, os irmãos cuidadosos, vi o seio de Gaia, vi o verde das montanhas, o fogo dos vulcões e as águas das nascentes. Ele já havia queimado as tolices de seu ego há muito tempo e dedicava sua vida aos viajantes sinceros que se empenham na autotransformação. Tal qual a lagarta que se transforma em borboleta.
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