TELETRANSPORTE
Para Stelios, a única maneira de viajar é o teletransporte. Antes ele levava meses para chegar da Terra a Marte, confinado em uma espaçonave apertada com um histórico de segurança muito longe de perfeito. O Teletransporte Express de Stelios mudou tudo isso. Agora a viagem leva apenas alguns minutos e, até agora, teve um índice de 100% de segurança.
Apesar disso, ele está sendo processado por um cliente insatisfeito. Ele alega que a empresa, na verdade, o matou. Seu argumento é simples: para funcionar, o teletransporte escaneia seu cérebro e seu corpo célula por célula, depois destrói todas elas, envia a informação para Marte e lá reconstrói você. Apesar de a pessoa ter a mesma aparência, pensar e sentir como a pessoa que foi posta para dormir e enviada através do espaço, o requerente alega que, na verdade, o que aconteceu foi seu assassinato e sua substituição por um clone.
Isso soa absurdo para Stelios. Afinal, ele fez a viagem pelo teletransportador várias vezes, e não se sente morto. Na verdade, como o requerente pode acreditar seriamente que foi morto pelo processo quando ele, claramente, tem a capacidade de levar o caso aos tribunais?
Mesmo assim, quando Stelios entrou outra vez no teletransportador e se preparava para apertar o botão que iria começar a desmantelá-lo, ele, por um instante, se perguntou se estava prestes a cometer suicídio...
Fonte: Capítulo 10 de Reasons and Persons, de Derek Parfit (Oxford University Press, 1984).
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