ENCONTREI SEU CãO
Tradução Silvia D. Schiros
Hoje
encontrei seu cão. Não, ele não foi adotado por ninguém. Aqui por
perto, a maioria das pessoas já têm vários cães; aqueles que não têm
nenhum não querem um cão. Eu sei que você esperava que ele encontrasse
um bom lar quando o deixou aqui, mas ele não encontrou. Quando o vi pela
primeira vez, ele estava bem longe da casa mais próxima e estava
sozinho, com sede, magro e mancava por causa de um machucado na pata.
Eu
queria tanto ser você naquele momento em que parei na frente dele. Para
ver sua cauda abanando e seus olhos brilhando ao pular nos seus braços,
pois ele sabia que você o encontraria, sabia que você não esqueceria
dele. Para ver o perdão em seus olhos pelo sofrimento e pela dor por que
ele havia passado em sua jornada sem fim à sua procura... Mas eu não
era você. E, apesar das minhas tentativas de convencê-lo a se aproximar,
seus olhos viam um estranho. Ele não confiava em mim. Ele não se
aproximava.
Ele virou as costas e seguiu seu caminho, pois
tinha certeza de que esse caminho o levaria a você. Ele não entende que
você não está procurando por ele. Ele só sabe que você não está lá, sabe
apenas que precisa te encontrar. Isso é mais importante do que comida,
água ou o estranho que pode lhe dar essas coisas.
Percebi que
seria inútil tentar persuadi-lo ou segui-lo. Eu nem sei seu nome. Fui
para casa, enchi um balde d' água e uma vasilha de comida e voltei para o
lugar onde o havia encontrado. Não havia nem sinal dele, mas deixei a
água e a comida debaixo da árvore onde ele havia buscado abrigo do sol e
um pouco de descanso. Veja bem, ele não é um cão selvagem. Ao
domesticá-lo, você tirou dele o instinto de sobrevivência nas ruas. Ele
só sabe que precisa caminhar o dia todo. Ele não sabe que o sol e o
calor podem custar-lhe a vida. Ele só sabe que precisa encontrá-lo.
Aguardei
na esperança de que voltasse para buscar abrigo sob a árvore, na
esperança de que a água e a comida que havia trazido fizessem com que
confiasse em mim e eu pudesse levá-lo para casa, cuidar do machucado da
pata, dar-lhe um canto fresco para se deitar e ajudá-lo a entender que
agora você não faria mais parte de sua vida. Ele não voltou aquela manhã
e, quando a noite caiu, a água e a comida permaneciam intocadas. Fiquei
preocupada. Você deve saber que poucas pessoas tentariam ajudar seu
cão. Algumas o enxotariam, outras chamariam a carrocinha, que lhe daria o
destino do qual você achou que o estava salvando - depois de dias de
sofrimento sem água ou comida.
Voltei ao local antes do
anoitecer. Não o encontrei. Na manhã seguinte, voltei e vi que a água e a
comida permaneciam intactas. Ah, se você estivesse aqui para chamar seu
nome! Sua voz é tão familiar para ele. Comecei a ir na direção que ele
havia tomado ontem, sem muita esperança de encontrá-lo. Ele estava tão
desesperado para te encontrar, que seria capaz de caminhar muitos
quilômetros em 24 horas.
Algumas horas mais tarde, a uma boa
distncia do local onde eu o havia visto pela primeira vez, finalmente
encontrei seu cão. A sede não o atormentava mais. Sua fome havia
desaparecido e suas dores haviam passado. O machucado da pata não o
incomodava mais. Agora seu cão está livre de todo esse sofrimento. Seu
cão morreu.
Ajoelhei-me ao lado dele e amaldiçoei você por não
estar aqui ontem para que eu pudesse ver o brilho, por um instante
sequer, naqueles olhos vazios. Rezei, pedindo que sua jornada o tenha
levado àquele lugar que acho que você esperava que ele encontrasse. Se
você soubesse por quanta coisa ele passou para chegar lá... E eu sofro,
pois sei que, se ele acordasse agora, e se eu fosse você, seus olhos
brilhariam ao reconhecê-lo, ele abanaria sua cauda, perdoando-o por
tê-lo abandonado.
(Recebi de Lilith_RJ)
Boa Noite e
Feliz Amanhecer!
Beijos 1000!
♥Eliscamsil♥