Cleide Canton
Neste canto de ciranda
roda a vida a desfilar.
Passam ventos na varanda,
passam rimas devagar.
Passam sons de passarinho,
murmúrios da beira-mar.
Passa a fonte em burburinho,
passa a vela a tremular.
A ciranda gira a roda,
a rosa vai desfolhar.
A tristeza se acomoda,
o riso vai disparar.
Passam nuvens lá no alto,
levam sonhos para o além.
Enquanto dorme o asfalto
eu me vou e você vem.
Passa o boi passa a boiada
num caminho de ninguém.
Passa a lama escancarada
num grito que não convém.
Passa o cego, passa o mudo
e o surdo que é mais feliz.
Também passa o abelhudo
que da vida é aprendiz.
Desfilam palavras tolas,
roucas, ocas, poucas, mil...
Passam seringas e ampolas
nos escuros de um covil.
Mas passa a fé e a esperança,
passa o amor e a lealdade.
Passa o riso de criança
num lampejo de bondade.
Passa a rosa desfolhada
sorrindo neste jardim.
Em lágrimas traz o verde
descolorindo o carmim.
Eu passo também cantando
fazendo o que sempre faço.
Na pena o verbo chorando,
no peito a flor de um abraço.