AGUARDANDO RESPOSTA
Jota Há
"Sinto em mim a imperiosa obrigação de ser feliz, mas toda felicidade obtida às custas dos outros me parece odiosa." André Gide
Desde os mais até os menos capazes – eu me incluo na segunda hipótese –, já escreveram sobre "felicidade".
Daí, em cada escrito encontrarmos uma definição diferente.
E não é para menos. Como definir algo abstrato e subjetivo?
Vejam o que o poeta Vinicius de Moraes escreveu sobre:
"A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor, brilha tão leve, depois, de leve, oscila e cai, como uma lágrima de amor"...
Poeticamente é lindo, mas não espere daí nada para confrontar com sua realidade.
Tentar fazer alguma comparação sobre a felicidade é aflorar a tenuidade da mesma.
Poucos são os que não acreditam em felicidade, maioria acreditam.
Temos os que pregam que a felicidade é passageira e os que dizem duradoura.
Prova cabal de que estamos tratando de algo subjetivo.
Tudo o que sabemos é que desde que nascemos, os primeiros movimentos e gestos já são em busca da tão sonhada felicidade.
O recém-nascido, consciente ou inconsciente, quando busca o seio de sua mãe para a primeira mamada ele não está em busca de outra coisa e, essa busca se estenderá por toda a sua existência.
Trilhará o seu caminho, assim como, cada um o seu, mas sempre em busca da mesma propalada felicidade.
São muitos os caminhos que poderão ou não levar ao mesmo objetivo.
Há aqueles que em suas infinitas buscas, acabam desistindo da razão e apelam para os caminhos da fé, buscam por esse atalho, o caminho mais fácil para consegui-la. Com o passar do tempo já exaustos – mesmo pelo atalho –, agora em súplicas perguntam:
Senhor, qual é o caminho para encontrá-la?
É verdade, Senhor, que ela nasce dos espinhos das vitórias?
Que é um horizonte distante, e aproximando-nos desaparece?
Que depende da serenidade da nossa consciência?
Estes nunca irão descobrir que a felicidade pode estar muito perto, ou talvez, dentro dos próprios!
Acabarão achando que a felicidade consiste na busca da felicidade! Nunca serão atores, passarão a existência como espectadores.
Essa tal felicidade, talvez, anda por aí, disfarçada, como uma criança traquina brincando de esconde-esconde.
Prestem atenção, eu disse talvez, não vão achar que eu estou afirmando que a felicidade está travestida de criança. Todas às regras tem exceção, nem todas as crianças são felizes ou conhecem essa tal felicidade.
Culpa nossa, dessa sociedade egoísta, que lhes roubamos esse direito nato, pondo-as no caminho da eterna busca.
Outros acreditam que a felicidade é adulta, uma senhora. São os que afirmam que Dona Felicidade mora longe dos sonhadores. Eu não acredito! Acho que a felicidade não é locadora, ela é sim, uma eterna locatária. Portanto, mora no espaço que nós reservamos para ela.
Dona Felicidade deve ser muito simples, é por isso que quase sempre não a enxergamos. Se Dona felicidade fosse uma "madame esnobe" embora estivesse fora de nosso alcance com certeza nós a enxergaríamos.
Trata-se de uma situação incomoda para o ser humano. Quantas vezes somos felizes e não sabemos.
Passamos a vida inteira em busca dessa tal felicidade. É como a água que só nos damos por falta dela quando a fonte seca.
Figuramos demais esse desejo de felicidade e, na ansiedade quase sempre a procuramos lá... bem longe... Depois, só tarde demais, é que descobrimos que a felicidade sempre esteve perto de nós,
dentro de nós, que só dependia de nós. Ser, ou não ser...
Ser feliz é aceitar o estado atual, é viver o momento. Vivendo bem o presente que em breve será o passado estaremos nos preparando para um futuro feliz.
Quantas vezes traçamos uma meta, determinamos um objetivo e afirmamos para nós mesmo que alcançando-o estaremos de posse da felicidade tão sonhada.
Deixamos tudo para um segundo plano e vamos em busca do nosso sonho sonhado. Uma vez realizado o sonho, rapidamente nos desiludimos. A conquista se revela sem mérito.
Traçamos um novo plano, e assim sucessivamente, é a lei da vida...
O que queremos, e para estarmos vivos precisamos, é desse constante desejar, desejar, desejar... A realidade pouco importa, preferimos a possibilidade, a posse é secundária e quase sempre nos decepciona.
Sem dúvida, somos movidos por essa busca constante, porém, é evidente que não possuímos capacidade para perceber quando encontramos a coisa buscada.
De posse, não sabemos conservá-la, deixamos sempre esvair, escoar-se pelos próprios dedos... para só depois lamentarmos o lugar comum: eu era feliz e não sabia...
Há pessoas que passam a vida enganando outras pessoas. Há ainda aquelas que tentam enganar-se a si próprias, mas... quase todas, se perguntado: você é feliz?...
Fazem cara de ex-voto. Aquelas caras que aparecem nas fotos que os fiéis deixam em exposição nas igrejas católicas para comemorar uma graça recebida ou promessa cumprida. Triste!... triste!...
Deixo aqui a pergunta: felicidade existe?
www.jotaha.com.br