O amor de sua vida
Roberto Freire
Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades
que ela tem, caso contrário os honestos,
simpáticos e não-fumantes teriam uma fila
de pretendentes batendo à porta.
O amor não é chegado a fazer contas,
não obedece à razão.
O verdadeiro amor acontece por empatia,
por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano.
Isso são só referênciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério,
pela paz que o outro lhe dá,
ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira
que os olhos piscam, pela fragilidade
que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante.
Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.
Você gosta de rock e ela de chorinho,
você gosta de praia e ela tem alergia a sol,
você abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo,
nem no ódio vocês combinam. Então?
Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa
imobilizado, o beijo dela é mais viciante
do que LSD, você adora brigar com ela
e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você é bonita. Seu cabelo nasceu para
ser sacudido num comercial de xampu
e seu corpo tem todas as curvas no lugar.
Independente, emprego fixo, bom saldo no banco.
Gosta de viajar, de música,
tem loucura por computador
e seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor,
não pega no pé de ninguém e adora sexo.
Com um currículo desse, criatura,
por que diabo está sem um amor?
Ah!!!...o amor, essa raposa.
Quem dera o amor não fosse um sentimento,
mas uma equação matemática:
eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim.
Amar não requer conhecimento prévio
nem consulta ao SPC.
Ama-se justamente
pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares,
generosos tem às pencas,
bons motoristas e bons pais de família,
tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito
que o AMOR DE SUA VIDA é!