Cleide Canton
Já sonhei um mundo azul
e lhe dei o meu sorriso.
Quanto encanto vislumbrava
em tão certo paraíso!
Naquela doce inocência
desses anos aprendizes,
dancei o vôo dos pássaros,
cantei hino dos felizes.
Navegando deslumbrada,
na minha nau de ilusões,
contei estrelas cadentes,
decorei versos, chavões.
Despetalei margaridas
na nsia do bem-me-quer,
calcei os enormes saltos
me fazendo de mulher.
Vesti-me toda de branco
já me vendo aos pés do altar,
e, escondida, abri a janela
para abraçar o luar.
Bonecas tantas vesti
juntando renda e babado
como fossem filhas minhas
concebidas sem pecado.
Conversei com tantos gatos,
cachorros e passarinhos,
fadas-madrinha, duendes,
e invisíveis amiguinhas.
Muito tempo se passou...
Não foi fácil descobrir
que este mundo tem a cor
que eu mesma possa tingir
e o tamanho do pedaço
que só eu consiga abraçar.
Para tudo existe o tempo,
para todos há um lugar.
Hoje faço o mundo azul
pincelado de esperança
vivendo a mesma euforia
dos meus dias de criança.
De um lado fica o jardim
onde rego o meu amor.
Do outro, imensa cascata
por onde deságuo a dor.
Meu teto, o céu infinito,
meu chão, a terra adubada.
Meu clamor renega o mito.
Sou uma apenas... Mais nada!