Um teorema sobre
Intimidade
Maurício Pascoal
Não nos falamos todo dia. às
vezes passamos meses sem manter um contato, seja
por telefone ou sinal de fumaça. Não sei se
ele está namorando ou dormindo com outros por
ai. Ele não sabe se o esqueci ou ainda penso
nele ao assistir The Middle todo domingo. Não
sabemos mais um da vida do outro para não deixar
a saudade se apoderar da tranquilidade. Talvez
uma tática meio egocêntrica e injusta, mas que
para nós, dois covardes, parece ser
eficaz.
Mas basta um descuidozinho,
alguma música ou algum ponto em comum, para um
dos dois, dar o braço a torcer e dizer: -
Escuta essa música. Acho que você vai
gostar. - Adorei.
Obrigado … … … No meio daquele
silêncio, aqui materializado em reticências, eu
sentia saudades dele. Eu queria dizer que
viajaria esse final de semana para encontrá-lo.
Queria dizer que largaria tudo para passar
alguns dias fazendo sexo e compartilhando
intimidades. E ele, eu bem sei, também
pensava nessas coisas. Pensava em me ter em seus
braços e me interromper quando contava histórias
com beijos. Pensava em me mostrar sua casa e sua
coleção de canecas…
- E a letra diz muita coisa… -
É. Diz. … … … E assim, sem precisar
dizer mais nada. Nós nos tínhamos em
intimidade.
às vezes um silêncio pode
significar muito mais que algumas frases feitas.
E às vezes o não dito pode ser sentido, mais do
que o que foi verbalizado. Em alguns
momentos, a vida não é justa com relação aos
casais que se gostam… Mas, no fim das contas, a
lembrança é sempre o que fica. A memória nunca
falha quando acredita que é
amor.
- Tenha uma boa semana. - Se
cuida e boa semana também. … … E assim,
em meio a reticências, nos despedimos pensando
em silêncio: Eu gosto de você. Eu também gosto
de você.
“A verdade, porem? Todo mundo tem
uma. Essa é a nossa maldição e nossa benção.
Essa é a nossa tentativa e nosso erro e nossa
coisa certa.”
(Will & Will de John Green e David
Levithan)
Paraiso Selvagem -
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