De todos os meus abraços, o mais forte foi aquele não dado e, no entanto, é dos mais presentes na minha alma. Ele impregna dentro do espírito e não sai nas trocas de roupa. Ele tem demonstrado que mais forte que o entrelaçar de braços é o encontro das almas. E que não importa o quanto se aproxime ou se afaste novamente, ele permanecerá ali, presente. Em sua ausência ele é substituído por tantas outras coisas: expectativas, lembranças que culminam no não abraço, tempos convividos em comunhão e mesmo por aquele olhar duro, carregado de sorrisos posteriores que afagam o pior dos dias e das noite. Emprestar os ombros não substitui esse abraço não sentido, esse calor não trocado nem os pés não pisados pela ansiedade do encontro dos corpos, apenas reforça ainda mais essa falta. É uma falta que ignora sua natureza, pois se faz mais real e presente que tantas coisas ao nosso redor. E se abraçar o próprio corpo for uma forma de trocar esses sentimentos não vividos, que o melhor exemplo seja dado durante o banho: local de presença forte daquilo que falta e falta daquilo que ficou no anseio. É hora de lavar não o corpo, mas as sensações e desejos que impedem esse abraço não vivido.