Amiga, não lembres
que andaste na rua:
pisada, ferida,
mordida / tão nua.
Teus olhos sangraram.
Teus seios sofreram.
Teus lábios gritaram,
murcharam, perderam
o brilho das rosas.
Fizeram-te um filho.
O pai?, não o conheces.
Pois tu saciaste
lascívias sem nome
na alcova das preces.
Não lembres, amiga,
que andaste na rua,
sem eira nem beira,
mais morta que viva.
à flor do vazio,
de pele, do prazer,
enquanto cerzias,
num rito de amor,
soluços e beijos,
querias comer.
E vias teu filho
sem rumo, sem norte,
à esquina dos dias,
à margem da sorte.
Amiga, esquece
que andaste na rua:
chamaram-te puta,
ao filho, bastardo.
E tu a mulher,
a mãe, que sei eu?,
tentando viver
- para isso nasceste.
(E a boca-do-lixo
ferrou-te o labéu).
Não lembres, amiga,
que andaste na rua:
jogada / perdida /
vazia / tão nua.
Domingos da Mota
*
" A poesia da vida,
Faz com que se tenha,
Paixão por Viver.
*
Eu sou doadora e vc?
EU MORO NESTE PAIS
BRASIL.