NOITE DE AMOR
Cleide Canton
O telefone toca em hora certa
quando o céu vê estrelas a nascer.
Um suspiro doce em sala deserta
se vestiu de festa para o prazer
de ouvir a voz do outro, sussurrando,
que de muito tempo estava esperando
o momento oportuno de a rever.
Um doce "alô", um "como está você",
uma rápida descrição do dia,
uma pausa leve onde se antevê
um convite, deslize de ousadia.
O bastante para fazer tremer
o corpo todo num entorpecer.
Um sorriso largo, plena euforia.
Banho de espuma, toque sedutor,
perfume envolvente, brilho no olhar,
capricho em detalhes, cor sobre cor,
e a vontade de fazê-lo esperar.
Alguém à porta. Ela esconde a ansiedade,
respira bem fundo, fica à vontade
e muito gentil o vai abraçar,
Ela tão meiga e ele tão fogoso,
traídos pela voz emocionada,
sentem-se presos num elo ardoroso,
deixam-se levar por um quase nada.
Não querem mais apenas mão na mão
nem conseguem dominar a emoção.
Ele impulsivo e ela enamorada.
A noite morna, amiga, hospedeira,
espalha baforadas de ternura
no final de uma festa domingueira,
na paixão que ao desejo se mistura.
Não pensam e se entregam, vacilantes,
aos apelos que clamam dominantes
nesse mar de prazer e de loucura.
Ela naufraga no amor.
Ele navega na aventura.