A perseverança, em qualquer realização superior, exige vasta cópia de resistência contra o desnimo e todos os demais agentes de perturbação que conspiram vigorosamente em favor do abandono do empreendimento abraçado.
Não é diferente, quando se está envolvido pelos ideais grandiosos do bem, que pretendem instalar na Terra o período da paz e do progresso.
Surgem, a cada instante, os desafios vigorosos que se apresentam com características diferenciadas; no entanto, sempre conspirando contra a tenacidade do lídimo lutador.
São as incompreensões dos que se comprazem na inutilidade e não permitem que outros realizem aquilo que eles justificam ser impraticável ou impossível de ser executado; os observadores destrutivos, que se caracterizam pela óptica da censura e da interpretação doentia de tudo quanto defrontam e não fazem; os agressores sistemáticos, cuja língua ferina ou pena cruel sempre são colocadas a serviço dos que invejam, mas preferem não se movimentar, mantendo a atitude de críticos inveterados e apedrejadores insensíveis... E multiplicam-se os obstáculos que se antepõem às propostas da edificação enobrecedora.
Esses, porém, são os mais fáceis adversários de qualquer ideal, porquanto vêem de fora e têm o valor que se lhes atribua, não merecendo maior consideração.
Há, no entanto, outros que são mais graves e difíceis de serem superados, porque permanecem no mundo íntimo do próprio idealista.
Trata-se da imensa gama de paixões inferiores que remanescem do período primitivo por onde o ser transitou no seu processo de elevação. Impregnados no seu mago, tornam-se-lhe uma segunda natureza, exteriorizando-se como necessidades que, não atendidas, entorpecem os sentimentos e coagulam a lucidez, tornando-se vigorosos combatentes do lado equivocado.
Vivendo na intimidade do indivíduo, apresentam-se com naturalidade e repontam com freqüência, mesmo quando crê haver-se liberado do jugo que lhe é imposto.
Insinuando-se com morbidez, são sutis e perigosos, mantendo largo convívio com a personalidade que dominam, insistindo, quando combatidos, em razão da presença constante nos hábitos em que estão enraizados.
Indispensáveis se tornam a atitude vigilante e a tenacidade em relação aos objetivos a alcançar, considerando-se que essa batalha íntima não tem testemunhas, nem quartel, sendo de demorado curso, cuja gratificação somente será percebida quando livre do pernicioso jugo.
Esses desafios constituem as fraquezas humanas, que devem ser superadas com todo o empenho, de forma que se instalem outros valores, aqueles que contribuem para a felicidade sem jaça.
O Apóstolo Paulo, que se empenhara totalmente na propagação do Evangelho e na sua vivência, confessou que lhe foi posto na carne um espinho, graças ao qual sofria o esbofetear constante evitando que se ensoberbecesse, derrapando em comprometimentos mais graves.
O idealista comum, no entanto, traz os espinhos das imperfeições que deve superar, em razão da procedência menos digna de onde vem deambulando.
Desse modo, são inevitáveis os desafios externos assim como os internos.
Os amantes do Bem em todas as épocas experimentaram a crueza dos seus coevos, a hostilidade dos seus competidores, a hediondez que predominava em cada período que eles vieram modificar. Igualmente sofreram os rudes testemunhos interiores, quando lutando contra a inferioridade, as tendências negativas, as tentações que os espicaçavam.
Ninguém transita poupado pelo campo da auto-iluminação. Enquanto não se lhe instalem as claridades íntimas, a permanência da treva da ignorncia propicia-lhe oportunidade para a manifestação dos agentes destrutivos.
Galvani foi ridicularizado como mestre da dança das rãs; Pasteur foi apelidado de caçador de bichinhos voadores; Darwin foi alcunhado de alma impenitente, e assim por diante.
Não menos anatematizados viveram os heróis da Fé, aqueles que se entregaram a Deus e modificaram o comportamento, sendo apodados como loucos, porque renunciaram aos prazeres imediatos do mundo terrestre, que substituíam pelos de ordem transcendente.
Todos eles sorveram a taça de fel da amargura e do ridículo que lhes impunham, em vãs tentativas de fazê-los desistir.
Dentre todos, tem primazia Jesus, que não foi poupado pelos Seus inimigos, afinal inimigos de si mesmos, que O conduziram à cruz, considerada então como sendo o instrumento mais infame de martírio existente.
Assim, é natural que repontem óbices, desafios, dificuldades que constituem, na vivência do ideal, estímulos para o prosseguimento do labor e teste de avaliação da qualidade de que o mesmo se reveste.
Não seja, pois, de estranhar, a aspereza dos caminhos a percorrer, quando se está vinculado ao Bem, com os olhos postos no futuro melhor da humanidade.
Toda vez que defrontes desafios pelo teu caminho iluminativo, avança intimorato, guardando a certeza de que eles te constituem bênção, se os souberes enfrentar.
Não aguardes compreensão nem aplauso no desiderato a que te entregas, porquanto o valor das homenagens e destaques desaparece com a disjunção molecular do corpo somático, que se transforma na intimidade do túmulo.
Se aspiras realmente a servir e a edificar, prepara-te para viver o objetivo, enfrentando aqueles que ainda se locupletam na dominação arbitrária e nas paixões asselvajadas do atraso moral.
...E diante dos problemas interiores que te perturbam, mantém-te sereno, trabalhando cada um deles e ampliando os teus horizontes de amor, a fim de que cresças e te libertes de ti mesmo, na conquista da tua iluminação.