A VERDADEIRA SABEDORIA
Ninguém nasceu sábio, diz um provérbio; e tem razão. Todos os entes humanos vêm a este mundo terrestre com o fim de aprenderem; e, quem deve aprender, não é, naturalmente, ainda sábio. Até o Mestre Jesus enquanto criança não era reconhecido como sábio. Diz o evangelista: “Jesus crescia em sabedoria e em idade”; portanto a Sabedoria foi manifestando-se nele, gradualmente. Ainda depois de haver sido batizado no Jordão, teve que combater as tentações, personificadas pelo Satanás.
E o mestre Buddha, quanto tempo precisou paradescobrir a Fonte da Sabedoria? Ele, cujo nome mesmo significa “Sábio” ou “Iluminado”. Não foi no esplêndido palácio real, não foi entre os gozos e prazeres, nos banquetes e no meio dos aduladores e servos submissos, que adquiriu Iluminação Suprema. Mas também não foi na vida ascética que essa Iluminação baixou sobre ele.
Nos primeiros 29 anos de sua vida cercavam-no de numerosos véus de Maya sensual, ilusão dos sentidos físicos; sete anos teve que lutar contra as Ilusões astrais, até que, por fim, reconhecendo que não se consegue obter a Suprema Sabedoria nem por meio de abstenção de alimento, nem por meio de sofrimento corporal, desistiu desses métodos errôneos e tratou de abrir a sua Mente. E então, só então se sentiu mergulhado na luz da Eterna Sabedoria. Só então obteve o conhecimento das suas encarnações anteriores e o conhecimento do método pelo qual se obtém a extinção dos desejos egoísticos e dos vínculos cármicos.
Dois são os caminhos que levam ao pleno conhecimento da Verdade, que é, ao mesmo tempo, a Suprema Sabedoria. Um deles é o caminho do Saber; o outro, o caminho da Fé. O primeiro prevalece no Buddhismo; o segundo, no Cristianismo.
Não pense, porém, que estes dois Caminhos são contrários um ao outro; ambos levam ao mesmo Alvo, e unem-se antes de chegar a ele.
Ambos são necessários, porque cada Alma há de percorrê-los a ambos, mas não precisa fazê-lo na mesma encarnação. Como alguns dos que já “entraram no caminho” têm desenvolvido mais as faculdades racionais, e outros desenvolveram mais o “coração”, isto é, as faculdades sensitivas, é natural que os primeiros fazem mais progresso pelo Caminho do Saber, e os outros pelo Caminho da Fé.
O primeiro, também chamado o Caminho da Razão, observa o Universo objetivamente e descobre nele uma única Lei impessoal, que rege todos os acontecimentos, unindo-os numa harmoniosa Unidade. Ao buddhista, essa Lei de Carma, a Lei de Causalidade, ou Lei de Causa e Efeito, explica os mistérios da aparente injustiça moral, e a existência de uma Verdadeira Justiça Universal.
Ao cristão, verdadeiro discípulo de Jesus Cristo, a Luz do segundo caminho, o da Fé ou Caminho do Coração, apresenta o Universo como um Ser Supremo, Deus Criador e Eterno Legislador.
Mas, para o verdadeiro Sábio, não há diferença essencial entre esses dois métodos de Conhecimento. Ambos são apenas dois aspectos de uma mesma Coisa, como os Discípulos dos Mestres já o reconhecem.
Uma vez foi Buddha perguntado: “Há ou não há Deus Criador?” Então, a quem julgava que tal Ser existia, o Iluminado apresentou objeções que podiam provar a inexistência de Deus. Em seguida, porém, continuou dizendo: “E agora te provarei o contrário do que acabo de afirmar.” E pôs-se a dar-lhe provas irrefutáveis da existência de Deus Criador. Vendo o discípulo confundido, acrescentou: “Não te inquietes com estes paradoxos; procura primeiro chegar à Iluminação, e depois tudo se te tornará claro.”
E o Caminho que guia a essa Iluminação, que esclarece todas dúvidas e nos enche de imperturbável sentimento de que existe uma infinita Sabedoria, que é, ao mesmo tempo, Infinita Bondade, Suprema Justiça, o Criador e Legislador do Universo, nosso Pai, o nosso imortal ideal, exige que algum tempo caminhemos pela Senda da Razão, e outra vez pela Senda do Coração, senão ainda não saberemos por os nossos pés assim que estejam simultaneamente em ambos esses caminhos.
Sem nos livrarmos, porém, das bagagens que o nosso Egoísmo nos pôs sobre os ombros, não faremos progresso no Caminho. Essas bagagens são: apego ao que é material e sensual; a ilusão de que alguém fora de nós pode nos salvar, mesmo sem nossa cooperação; a ilusão de que os bens materiais, em si só, têm valor para o verdadeiro Progresso; o medo de que alguém nos possa fazer mal; a ilusão de que as forças psíquicas, de per si, demonstram adiantamento espiritual.
Não devemos desprezar a matéria e seus gozos lícitos; quem o faz, sente, mais tarde, o choque de retorno; mas devemos procurar cada vez mais libertar-nos das necessidades desses gozos. Não julguemos que Jesus já nos garantiu a nossa salvação e que é desnecessário nós mesmos no-la merecer; mas compreendamos o que Jesus nos prometeu, fazendo as obras por Ele exigidas. Os bens materiais devem servir para o progresso da nossa Alma, para obras de caridade, estudos, etc; mas não para luxo e orgulho.
Ninguém nos pode fazer mal algum, se nós não lhe temos dado motivo. Não nos fiemos no psiquismo; ele deve ser servo das Forças Benfazejas, mas não se deve tornar nosso escravizador, nem um meio de sermos seduzidos por forças maléficas.
Quem deseja obter a Liberdade Espiritual, siga estas regras.
Texto extraído da Revista “O Pensamento”; Março/Abril – 1997 – páginas 59-61)
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