A LIçãO DA CAVEIRA Um príncipe, muito orgulhoso de sua realeza, foi, numa manhã, cavalgar por seus domínios. Suas terras eram bastante vastas e ele cavalgou através de vales e montanhas. Andou por colinas e prados, gozando a vaidade de ser senhor de tão larga extensão de terras. A certa altura do seu caminho, viu um velho eremita, sentado diante de uma gruta. Ele trazia nas mãos uma caveira humana e a contemplava com atenção. Ao passar por ali, o príncipe ficou indignado por não ter o velho, ao menos, levantado os olhos para observar a rica caravana que o acompanhava. Rude e zombeteiro, aproximou-se a figura real e disse: Levanta-te quando por ti passa o teu senhor! Que podes ver de tão interessante nessa pobre caveira, que chegas a não perceber a passagem de um príncipe e seus poderosos acompanhantes? O eremita ergueu para ele os olhos mansos e respondeu, em voz clara e sonora: Perdoa, senhor. Eu estava procurando descobrir se esta caveira tinha pertencido a um mendigo ou a um príncipe. Por mais observe, não consigo distinguir de quem seja. Nestes ossos nada há que me diga se a carne que os revestiu repousou em travesseiros de plumas ou nas pedras das estradas. Não há na caveira nenhum sinal que me aponte, com certeza, se ela já carregou um chapéu de fidalgo ou se suportou o sol ardente, na rudeza dos trabalhos de camponês. Por isso, eu não sei dizer se devo levantar-me ou me conservar sentado diante daquele que em vida foi o dono deste crnio anônimo. O príncipe baixou a cabeça e prosseguiu o seu caminho, sem mais nada dizer. Mesmo quando a noite chegou e ele retornou ao seu castelo, continuou pensativo. A lição da caveira lhe abatera o orgulho. * * * Que são títulos, honrarias, riquezas ante a enfermidade e a morte? A enfermidade, ao estabelecer o seu reino no corpo humano, nunca indaga se a criatura é detentora de poder e glória ou se é um simples alguém, perdido na multidão. A dor, ao fazer morada no coração do homem, jamais se importa se ele tem posses ou se é alguém que, simplesmente, perambula pelas ruas, sem teto e sem lar. A morte, ao arrebatar a vida física, não faz distinção de contas bancárias, títulos financeiros ou bolsos vazios. * * * O orgulho é um terrível inimigo da criatura humana. Torna o indivíduo insensível à piedade e ao sofrimento do próximo. Predispõe à arrogncia e é causa ponderável da perdição de muitas vidas. Cria fantasias de força e poder que o ser está longe de possuir. Ainda hoje é responsável por várias expressões de sofrimento, levando a duelos verbais e físicos, que desestruturam famílias, amizades e grupos sociais. A verdadeira grandeza está no fato de se reconhecer a própria pequenez. Verdadeiramente grande é o ser que reconhece a sua fragilidade e sua possibilidade de errar. É aquele que luta por se manter nobre. Se algo faz de errado, dá-se conta do erro e se esforça por reparar os danos causados e o mal estar que provocou. Há sempre elevação e dignidade naquele que se considera vulnerável ao engano, ao erro. Redação do Momento Espírita
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