Suspirando pelo domínio do espaço, embriaga-se o homem, prelibando a contemplação dos reinos multifários da natureza cósmica, e muitas vezes, fascinado pelas grandes promessas religiosas, antecipa-se ao julgamento da Humanidade, mentalizando cataclismas de variada expressão, com os quais cessaria a Divina Providência de reformar-nos a oportunidade de trabalho e progresso, burilamento e elevação sobre a Terra.
Entretanto, lembra-te de que, para as milhares de consciências que hoje partiram ao encontro da grande renovação pelos braços da morte, todo o painel da existência sofreu modificações viscerais e profundas.
Há revelações e surpresas todos os dias para quantos se vêem inelutavelmente chamados a definitivas transformações.
E cada viajor constrangido a alterações dessa espécie caminha, segundo as suas próprias afinidades e preferências, para a esfera que lhe corresponde aos desejos.
Não olvides que além da Terra em cuja protetora vestimenta agora estagias, outros círculos te aguardam o cérebro e o coração.
Qual ocorre na experiência terrestre, em que diversos setores de atividade se entrosam no espaço de que dispomos, além do túmulo os delinqüentes fazem a flagelação da penitenciária, os viciados constróem o cortiço da treva adequada à loucura em que respiram, os trabalhadores fiéis ao bem sustentam a oficina da caridade e os devotos da fé prosseguem construindo o túnel de esperança entre a dúvida humana e a certeza inalienável.
Não cabe, desse modo, desatar teus laços de trabalho permanecendo no êxtase inútil, na previsão ociosa de paisagens e acontecimentos que surgirão para quem se libertar pela própria sublimação, porque o mundo que, em verdade, nos alçará ao céu pleno será o mundo de nós mesmos, quando nos afastarmos da sombra para vivermos inteiramente na luz