à SOMBRA DO IPê
Naquela manhã de primavera, bem no alto da colina, deitada em relva verdejante, senti-me personagem de Monet. Trajava vestido esvoaçante, chapéu com laço cor-de-rosa, à sombra de frondoso e secular ipê. Pequenas flores dançavam levemente, com o sopro da brisa, ao som melodioso de pássaros canoros. Parecia um manto difuso e colorido a descer pela montanha, invadindo vales. O cenário era encantador! Ali pensava como tem sido bela a minha vida! Tão plena de experiências ricas, Tão pródiga em dar e receber amor! Súbito, negra nuvem surge e empana o azul do céu. Embaça a paisagem límpida, aparentando estranho véu... A Natureza toda se arrepia. Célere, a tempestade se aproxima! Levantei-me, cheia de pavor. Saí daquela imagem turva, brumosa. Pelas cordilheiras, adiante, voei, livre qual um condor. A procela não me pega!... Despertei.
(Gracinha Rego)
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