Lavando a Alma
A mulher à minha frente caminhava sem pressa sob a chuva forte que lhe encharcava as roupas, colando-as em seu corpo de formas ainda bonitas, mesmo aparentando ter ela mais de 50 anos. Não usava guarda-chuva e parecia não se importar com isso. Tinha um rosto bonito e triste e caminhava, com passos cadenciados, em direção ao nada. Juntei-me a ela.
Ouvia-se o som da chuva caindo e se espalhando no chão, espirrando em ambas, respingos que nos açoitavam as pernas e pareciam querer nos tirar do estado de torpor e dor que nos mantinha uma ligada à outra, numa cumplicidade sem gestos e sem palavras mas ali, presente no ritmo de nossos passos sob a chuva.
A sensação de estar lavando a alma, era sentida como um presente, e o cheiro de terra molhada, também. Mais de perto, pude ouvir os soluços da mulher. Novamente, juntei-me a ela e deixei que as lágrimas misturadas à chuva rolassem também pelo meu rosto, encharcassem meu corpo, lavando e levando esta dor que aqui dentro resiste e insiste em ficar, em ficar, em ficar.... E a chuva generosa, lavou sim minha alma, mas quase me afoga o coração
d.a
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