A GALINHA AFETUOSA
Gentil galinha, cheia de instintos maternais,
|
encontrou um ovo de regular tamanho e espalmou
as asas sobre ele, aquecendo-o carinhosamente.
De quando em quando, beijava-o, enternecida.
Se saía a buscar alimento, voltava apressada,
para que lhe não faltasse calor vitalizante.
E pensava garbosa: - "Será meu pintainho! será meu filho!”.
Em formosa manhã de céu claro, notou que o filhotinho nascia robusto.
Criou-o, com todos os cuidados.
Um dia porém, viu-o fugir pelas águas de um lago, sobre as quais deslizava.
Chamou-o como louca:
...e não houve resposta. Ele era um pato arisco e fujão.
A galinha, voltou muito triste, ao velho poleiro.
-choquei um ovo de quem não pertencia a família...
Encontrou outro ovo... chocou-o.
Outra ave nasceu. Tratou-o com mil cuidados...
...e notou que não era pintainho.
Um dia, o corvinho voou, juntando-se a outros.
A galinha sofreu muitíssimo.
Embora resolvida a viver só, foi surpreendida certo dia, por outro ovo.
Chocou-o.
Dentro de pouco o filhote surgia. A galinha afagou-o feliz.
Quando o filho estava crescido:
- ora ele persegue ratos na sombra!
Durante o dia era um desastrado... ele parecia cego.
à noite seus olhos brilhavam.
Era uma corujinha que acabou fugindo da mãe.
A mãe chorou amargamente. Porém, encontrando outro ovo, buscou ampará-lo,
a galinha ajudou-o como pôde, mas,
o filho cresceu demais passou a mirá-la de alto a baixo.
Era um pavãozinho orgulhoso que chegou mesmo a maltratá-la.
A carinhosa ave, dessa vez, desesperou em definitivo.
Saiu do galinheiro gritando e dispunha-se a cair nas águas de rio próximo,
em sinal de protesto contra o destino,
quando grande galinha mais velha a abordou,
curiosa, a indagar dos motivos de sua dor.
A pobre respondeu, historiando o próprio caso.
A irmã experiente estampou no olhar linda expressão
de complacência e considerou, cacarejando:
- Que é isto amiga? não desespere. A obra do mundo é de Deus, nosso Pai.
Há ovos de toda espécie inclusive os nossos,
continue ajudando em nome do Poder Criador;
entretanto, não se prenda aos resultados
do serviço que pertencem a Ele e não a nós .
Não podemos obrigar os outros a serem iguais a nós,
mas é possível auxiliar a todos, de acordo com as nossas possibilidades.
Entendeu?
O caminho humano estende-se, repleto de dramas iguais a este.
Temos filhos, irmãos e parentes diversos que de modo algum
se afinam com as nossas tendências e sentimentos.
Trazem consigo inibições e particularidades de outras vidas
que não podemos eliminar de pronto.
Estimaríamos que nos dessem compreensão e carinho,
mas permanecem imantados a outras pessoas e situações,
com as quais assumiram inadiáveis compromissos.
De outras vezes, respiram noutros climas evolutivos.
Não nos aflijamos, porém.
A cada criatura pertence à claridade ou a sombra,
a alegria ou a tristeza do degrau em que se colocou.
Amemos sem o egoísmo da posse e sem qualquer propósito de recompensa,
convencidos de que Deus fará o resto.
♥♥♥
Do livro A Vida Fala I.
Psicografia de Francisco Cndido Xaviér.