A liberdade é a raiz da vida consciente; no entanto, a cada passo urdimos entraves e impedimentos para nós mesmos.
Não nos reportamos à clausura de pedra, que funciona à guisa de hospital para as inteligências envenenadas na delinqüência, e sim aos grilhões invisíveis a que milhares de criaturas jazem escravizadas.
Prisões sem grades dos elos consangüíneos, em que os adversários de outras eras se defrontam, dia a dia, entre as paredes imponderáveis do tempo, no abraço compulsório da assistência recíproca, em nome dos compromissos familiares...
Cubículos de vérmina, limitados pela epiderme, nos quais os desertores do dever expiam culpas sob a longa constrição de moléstias irreversíveis no corpo físico...
Ferretes de inibição, geometricamente fixados em certos órgãos e membros do veículo físico, retificando aspirações ou frenando impulsos...
Grilhetas de pauperismo, circunscritas aos marcos da condição social, em que se corrigem antigos e festejados malfeitores da fortuna amoedada...
Calabouços de obsessão, em cujo clima de ansiedade se reajustam sentimentos transviados ao peso de estranhos desequilíbrios...
Esses obstáculos e masmorras, entretanto, são entretecidos simplesmente por nós, sempre que nomeamos o egoísmo e a vaidade, a intemperança e o vício para a função de carcereiros de nossas almas.
Mesmo assim, sobre semelhantes cadeias, a liberdade brilha vitoriosa.
E consola-nos reconhecer que todo espírito em cativeiro é intimamente livre para recuperar a própria liberdade, porquanto, no ngulo mais escuro do mais escuro cárcere, todos somos livres no pensamento para refazer o destino, obedecendo à justiça e praticando o bem.