Plantou-se uma sementinha e ela foi crescendo, desgovernada e sozinha.
Germinou indiscriminadamente, floresceu finalmente e o Sonho nasceu.
Se fez criança, cheio de impossibilidades, tentando conseguir viver,
tropeçando e já querendo correr, mesmo antes de andar aprender.
Desobediente, atrevido, se desenvolveu aflito. Teimoso, mimado e dengoso,
sem aceitar ajuda, sem entender que a Razão, sua mãe e mãe da Emoção,
tentava de todas as formas contê-lo.
Quando se fez adolescente tornou-se inconseqüente, confuso, insatisfeito,
inseguro. Seu pai, o Coração, que também é pai da Ilusão, aconselhou-o a
ir devagar, mas... permitiu-lhe voar.
O pobre menino com pressa de se libertar correu velozmente atrás da maioridade
a fim de encontrar sua liberdade, mas quando se fez independente, percebeu
que ainda não era coerente.
Um dia, adulto, Sonho se tornou. Entendeu finalmente que a Realidade,
a amiga de toda a sua vida e que por ele jamais foi entendida, muitas vezes
tentou lhe avisar que naquele caminho ele não deveria passar.
E aí, quando idoso o Sonho se tornou, viu que a si próprio não teve amor
e que tanto o Coração quanto a Razão, lutaram entre si para educá-lo e ainda
assim acabaram sendo os culpados. Porque quando Razão, sua mãe, um freio
tentou lhe colocar, veio o Coração, seu pai, e lhe permitiu voar. Seus devaneios
não podou, seus ímpetos não travou.
As irmãs, Ilusão e Emoção, coitadas... também foram culpadas, porque por
serem mais velhas, deveriam ter orientado o irmão que viver como elas não
seria a solução.
Sonho já envelhecido, cansado e sofrido, um dia percebeu o grande conflito
em que viveu, entre sua mãe a Razão e seu pai, o Coração, e entendeu
que acabou sendo o motivo daquela separação.
Enfim, Coração parou de bater e não permitiu mais que sua família pudesse viver.
Hoje existe um cantinho em algum lugar que guarda todos eles com apenas
uma inscrição:
"Aqui jaz a desunião , o conflito, a confusão.
Aqui jaz o Sr. Coração
Sua mulher - a Razão
E seus filhos - Sonho, Ilusão e Emoção."
Quanto à amiga Realidade?
Ela nunca os esqueceu, nem mesmo depois que Sonho morreu.
Silvana Duboc