A responsabilidade marca, de fato, uma diferença na conduta do ser. Ser responsável é reconhecer humildemente suas falhas e desejar sinceramente reparar o mal feito. Assumir as nossas responsabilidades é ter a coragem de ser, é demonstrar capacidade de agir com elevação e dignidade, sem escamoteações ou desculpismos insustentáveis. Em muitas situações entendemos (quando a culpa é consciente) ou sentimos (quando a culpa é inconsciente) que as condutas autopunitivas geradas e sustentadas pelo sentimento de culpa estariam a serviço de algum “pagamento” da dívida moral. Pessoas que cometeram erros e que se arrependem, podem terminar por se punir, acreditando que no fundo não merecem uma vida melhor, uma vida feliz. Punem-se pela consciência de culpa que lhes visita a alma. Não se permitem recomeçar ou reparar a falta cometida. A culpa deita o indivíduo no berço esplêndido da inação, dando-lhe ao mesmo tempo a falsa ideia de resgate ou reajustamento. Não nos reerguemos pela dor escolhida e vivida em clima de insatisfação, queixumes e revolta, como aliás propõe o amigo espiritual Lacordaire em “Bem sofrer e mal sofrer”.5
Numa linguagem da filosofia existencialista, ter responsabilidade significaria sair de uma vida banal, inautêntica e vulgar para uma vida autêntica e filosófica, através da consciência dos problemas existenciais e da sua condição de ser existente no mundo, sendo ele responsável por todos os seus atos. Esta autenticidade se traduz pela coragem de ser, de romper com a banalidade nas relações humanas e ser o que se escolhe ser.