Victor,
Ofereço-te um café , em troca desta maravilhosa,
"Viagem de Saudade, ao Mato de Mo챌ambique "
Uma madrugada de Agosto,
A um jeep eu me subi,
A névoa estava densa,
Bastante frio senti.
S창o os meses frios do Sul,
Mas eu ia preparado,
Levava uma boa samarra
Nào queria estar constipado.
Ia feliz e animado,Porque
n창o há ninguem que n창o fique,
Deslumbrado e extasiado
Nas terras de Mo챌ambique.
Sai pela estrada da Manga
Em direc챌창o ao Dondo
Levava de ajudante
O cozinheiro Matondo.
Íamos os dois visitar
Terras que antes ca챌ei
Agora nada de armas
Só fotos, eu tirarei.
Já matei muitas espécies,
Há trinta anos passados,
Agora nada de tiros,
Os animais já s창o raros.
Passámos pelo Dondo,
P’ra a estrada de Inhaminga,
Tínhamos que ter cuidado,
Porque havia muita “minga”.
No desvio da Muanza,
Para a esquerda tor챌emos,
Direitos para Mazamba,
Lugar onde antes vivemos.
Pareceu-me ver um leopardo,
Que ia lá baixo a correr,
É o primeiro animal,
Que ancan챌ei eu a ver.
Segui baixando p’ro vale,
Ao longe via a famosa,
Destacando no horizonte,
A Serra da Gorongosa.
Que lindo vale era aquele
Que saudades, que beleza
Os tandos estavam belos
Assim era a natureza.
Parámos perto de um rio
E vi que “banja” havia,
Era o chefe Mazamba
Que a sua gente reunia.
Veio-me o chefe saudar
Tinha os olhos cansados
Perguntou quem era eu
Que fazia p’ra aqueles lados.
Vivi aqui muitos anos,
Num acampamento que tive
Um pouco acima do rio
Queria saber quem lá vive?
O homem olhou p’ra mim
Admirado e sorrindo
Com os bra챌os abertos
Victor Cabral s챗 benvindo
Estava feliz o chefe,
Porque me reconheceu,
Chegaram-me as lágrimas aos olhos,
Oh! Que saudades Deus meu.
Aqui podes acampar,
Disse-me o chefe contente,
Vais a ver que ainda hoje
Vai vir alguem da tua gente.
Chefe Mazamba obrigado
Pela tua hospitalidade
Vou estar aqui alguns dias
Para matar a saudade.
Fizemos um acampamento
Numa linda clareira
O chefe mandou por lenha
Para fazer a fogueira.
Olhava p’ras labaredas
Que saiam n창o sei donde
Pensei no velho pisteiro
O meu “baba”, que foi Fombe.
Estou certo que o seu espirito,
Andava por aí a rondar,
Contente que eu tinha vindo
Novamente ao seu lugar.
Elevei uma ora챌창o
Numa respeitosa pre챌e
Quero que me guies bem,
Manguana machibésse.
Quero ir ver os búfalos
Se n창o é grande chatisse
Eu lembro-me que lhes gostava
Andar perto ao Inhanfisse.
Nhati – assim os chamam
E que fortes animais s창o
Quero ir ao Inhangdué,
P’ra ver algum leâo.
Aí eram terras do velho,
Araujo se chamava,
Diz que tinha sangue azul
É o que a gente murmurava.
Dormi t창o bem essa noite,
Um espirito me embalava,
Com o som dos batuqes,
Parecia que flutuava.
O cozinheiro Matondo,
Trouxe-me à cama um café,
Continuava aquel hábito,
Antes de por-me de pé.
Um matabicho bem bom,
Ao jeep ent창o nos subimos,
Fomos direitinho ao tando,
E alguns animais vimos.
Eram as zebras vistosas,
Sengos, javalis corriam,
Ao longe vi umas tucas,
Bois-cavalos que fugiam.
Que linda que é a minha África,
Com engra챌ados esquilos,
Com aves e plantas raras,
E tambem com crocodilos.
Ouvi cantar as “kués”,
Os patos “surires” silvavam,
Os trinidos das goembas,
Eram sons que me gostavam.
Vi um elefante comer,
Numa árvore de mafura,
Tambem comi daquele fruto,
Um gosto, que ainda dura.
Alguem disse alguma vez,
Que quem ao mato vier,
De certeza voltará,
Como ao amor de uma mulher.
Continuámos p’ra frente,
Vimos gazelas e impalas,
Cabritos, e inhacosos,
E tambem vi pala-palas.
Que bom ver que ainda existem,
Especies de animais,
Para poder procrear,
E que nas챌am muitos mais.
Numa lag척a bonita,
A que os locais chamam Lunga,
Parei para descansar,
Estava a água profunda.
Tantas vezes que aqui vim,
Quando safaris guiava,
Aproveitava p’ra comer,
Com turistas que levava.
Estava cheia de nenúfares,
Uma t창o delicada flor,
De cores brancas e azuis,
Brilhantes de explendor.
Ouvi “cantar” um hipopotamo,
Um pouco mais adeante,
Vi mesopos e tilápias,
E tambem um elefante.
Mais adeante vi,
Deu-me um salto o cora챌창o,
Com uma juba negra ao vento,
Um imponente le창o.
Continuei o caminho,
Ao Kanga Nthole fui dar,
Estava abandonado,
Quase me pus a chorar.
Naquele lugar t창o bonito,
Em que o tempo parou,
Amores um dia lá tive,
Que a memoria n창o apagou.
Se algum dias l챗s os versos,
Desta pequena história,
Tu casas-te, eu tambem,
Mas n창o me sais da memória.
N창o te preocupes senhora,
Estarei sempre aos teus pés,
Preferiria morrer agora,
Do que revelar quem tu és.
Se escrevi isto aqui,
N창o foi por presun챌창o,
Foi para que tu soubesses:
Te tenho no cora챌창o.
Regressei já pela tarde,
Ao lugar onde acampei,
Ia ter uma surpresa,
À noite, quando cheguei.
Estava um velho andrajoso,
Perto do fogo sentado,
Levantou-se e dirigiu-se,
Devar para meu lado.
“Patrâo já nâo me conheçe?
Sou Jo창o o seu guia,
Que o levava ao Endone
A qualquer hora do dia.”
N창o podia acreditar,
Que aquele homem t창o débil,
Fosse o rapaz que noutro tempo,
Forte, sagaz e ágil.
Fomos juntos à Macossa,
Ao Catulene e Zambeze,
Chegamos à Mutarara,
À Zambézia e, até a Tete.
Victor Cabral
Domingo, Mar챌o 26, 2006
Um beijinho com os meus parabéns e obrigada por estas memórias do mato .
Isabel