Lobo Antunes evocou as suas raízes germ창nicas, afimando estar na terra que o seu pai "considerava sua"
António Lobo Antunes foi longamente aplaudido anteontem à noite por centenas de centenas de pessoas que assistiram no 7º Festival de Literatura de Berlim a uma leitura das suas obras, em Português e Alemão.
Visivelmente emocionado, o escritor português evocou as suas raízes germânicas, afirmando estar na terra que o seu pai "considerava sua e considerou até à morte".
Apresentado pelos responsáveis do festival como "o maior escritor lusitano da actualidade, mesmo tendo em conta José Sara mago", Lobo Antunes acrescentou que seu pai "dizia que havia de voltar à terra prometida, que era esta".
"Onde quer que ele esteja decerto ficará contente por me ver aqui", referiu.
Noutra interven챌찾o refor챌ou ainda mais a sua empatai com o público, ao afirmar "Acho que me tratam bem na Alemanha porque sou 25 por cento alem찾o".
Logo a seguir, porém, o escritor luso reafirmou-se um cidad찾o do mundo, "do país de Velasquez, de Haydn ou de Tchekov".
A leitura em alemão de várias crónicas de Lobo Antunes e também de passagens do seu último livro, "Ontem não te vi na Babilónia", e ainda de "D'este viver aqui neste papel descripto - Cartas da Guerra", com as cartas que enviou de Angola à sua primeira mulher, quando combatia na Guerra Colonial, foi feita de forma magistral pelo actor berlinense Burghart Klaussner, que arrancou aplausos da assistência e mereceu também elogios do escritor.
O escritor portugu챗s revelou ainda que inicialmente foi contra a ideia da publica챌찾o de "Cartas da Guerra" (verto texto em baixo), por no seu entender recear que a sua privacidade n찾o fosse preservada. "Muita gente compra o livro porque querem ver fazer amor pelo buraco da fechadura, mas para mim o mais importante é mostrar o absurdo da guerra", sublinhou o autor, de 65 anos.
Tradu챌찾o "extraordinária"
Lobo Antunes falou ainda das dificuldades de tradu챌찾o dos seus livros, afirmando que uma tradu챌찾o "é sempre uma fotografia a preto e branco de um quadro", mas elogiou a sua actual tradutora para o Alem찾o, Maralde-Meyer Minnemann.
"Ela tem feito um trabalho extraordinário, e tenta passar a música da língua para o Alem찾o, o meu pai, que era bilíngue, achava as tradu챌천es dela muito boas", disse o escritor luso.
Convidado a dizer qual é o papel que as crónicas que escreve para jornais têm na sua obra, Lobo Antunes afirmou que nunca deu muita importância às crónicas, "que eram sobretudo um problema alimentar", e a certa altura garantiram a sua subsistência.
"Durante cinco ou seis anos, n찾o escrevi crónicas, mas a certa altura compreendi que as podia utilizar como textos paralelos aos romances, quase como um diário", acrescentou.
"No entanto, continuo a achar que devo dar mais import창ncia aos livros, embora n찾o renegue as crónicas", concluiu Lobo Antunes.