BRANCA-NEGRA
Que hei-de fazer desta onda
de tanto amor que há em mim
se eu n찾o percebo ronga
e n찾o sei falar landim?!...
Nunca entrei no cani챌o,
nunca dormi sobre palha,
n찾o sei arrancar caju
o p찾o e o vinho da uva,
n찾o compreendo feiti챌o,
n찾o fa챌o amor onde calha,
n찾o sinto no meu corpo nu
as chicotadas da chuva…
Toda a vida é feita assim
há a quem tudo lhe falte
quem aos outros tudo tome…
que hei-de eu ent찾o fazer
deste meu amor sem fruto?...
Nessas bacias de esmalte
em m찾os vestidas de luto,
ao gosto amargo da fome,
vou vend챗-lo a quinhenta
ao pre챌o do amendoím,
feito de sol e capim
de suor e marrabenta.
Quem compra a minha Saudade
de n찾o ter nascido assim,
nas m찾os a alma sedenta,
na carne a áfrica a arder…
Ao pre챌o do amendoím,
em saquinhos de papel,
vendo amor a quinhenta
em troca da cor da pele!
E a cada entardecer,
e cada esquina dobrada,
vendo a minha humanidade
que n찾o me serve pra nada.
Riso triste de menina
tempo nenhum pra crescer,
música doce do vento
em dedos de casuarina,
no corpo a fome da manh찾,
nas veias o sol a descer,
angústia feita rotina,
meus sonhos sem amanhã…
Resta-me o grito e o tempo
e a esperan챌ade agora,
paz de adormecimento
que me morre vida fora…
Amargo consentimento…que me acontece hora a hora!
Maria do Carmo Abecassis, in, Em Vez de Asas Tenho Bra챌os