OITO ANOS DE MACAU À CHINESA
JOÃO CÃU E SILVA
O fogo-de-artifício que iluminou o céu de Macau, a festa com 2500 convidados que provaram uma ceia banhada a champanhe e acompanhada de todos os pratos que combinam com esta bebida e os milhares de jogadores que esperavam ansiosos à porta do mais novo casino de Macau - o MGM Grand Macau - retratam da forma mais perfeita o actual estado do território que há oito anos exactos foi devolvido por Portugal à República Popular da China.
Se, no entanto, desejarmos fazer esse retrato à luz de como é o Macau que Portugal deixou três mil dias após o "Handover" - até agora sempre que se fala na devolução, utiliza-se sempre esta expressão e nunca a portuguesa "devolução" -, a resposta é de grande dificuldade, e, por mais que se escreva, é impossível ser suficientemente clara no que respeita à herança de uma "ocupação territorial" de 442 anos. Apenas se pode fazer um pálido retrato de uma mudança radical que se verificou num território que os manuais de escola portugueses diziam ter 16 km2 e que até há poucos dias crescera até aos 29 km2.
A inaugura챌찾o do casino MGM Grand Macau pode ser a concretiza챌찾o dessa metáfora que a administra챌찾o chinesa imediatamente tornou real após receber - por imposi챌찾o de uma descoloniza챌찾o promovida pelos capit찾es de Abril que tanto assustou a vizinha possess찾o chinesa de Hong Kong - Macau de volta. Uma das primeira decis천es foi acabar com o monopólio que as autoridades portuguesas tinham concedido ao homem mais rico de Macau, Stanley Ho, e admitir que novos investidores injectassem milh천es de dólares no território.
Decorrente dessa medida, Macau recebeu nos últimos dois anos mais investimento estrangeiro que a Índia e facilmente ganhou o estatuto de Las Vegas do Oriente, uma miragem que atraiu este ano ao pequeno enclave 27 milhões de turistas, principalmente jogadores, em vez dos dois milhões que até há oito anos, enquanto estava sob administração portuguesa aí entravam.
E foi a abertura de novas concess천es aos grandes proprietários dos casinos de Las Vegas que potenciou a grande mudan챌a de Macau em todos os sentidos. Da exclusividade da Sociedade de Jogos de Macau (de Stanley Ho) passaram a existir mais dois concessionários e tr챗s subconcessionários - Las Vegas Sands, Wynn Resorts, Galaxy Resorts, MGM Macau e Melco/PBL, consórcio liderado por Lawrence Ho e pelo magnata australiano James Packer - que n찾o afectaram a riqueza de Stanley Ho como a princípio se admitia. Pelo contrário, o milionário aproveitou a expans찾o do mercado e a cem metros da sua relíquia, o Casino Lisboa, edificou um arranha-céus a que deu o nome de Grand Lisboa.
Uma torre com vários andares dedicados à zona de casino, múltiplos salões de festa e centenas de quartos, que exprimem a potencialidade de uma arquitectura inovadora que se tem vindo a gerar em Macau pois representa uma flor de lótus - o símbolo da região - e que segue o exemplo do que já se edificou nas zonas conquistadas ao mar e foi seguido na construção do MGM Grand Macau - de quem é sócia principal Pansy Ho, a filha de Stanley Ho - e que com apenas 24 horas de existência já abre o apetite a milhões de chineses, filipinos, coreanos, singapurenses, taiwaneses que agora têm mais um cenário para gastar as ilusões.
Os tr챗s paralelepípedos elípticos do casino MGM, que se destacam num trio de tons dourados, n찾o incomodam Stanley Ho, nem Steve Winn que tem o seu casino a pouco metros ou o maior casino do mundo, o Venetian, o primeiro a ser inaugurado numa avenida exclusivamente dedicada ao jogo - de onde se podem ver as casinhas coloniais deixadas pelos portugueses -, a Cotai Strip, onde ser찾o abertos até ao fim do próximo ano mais casinos e hotéis de luxo, perfazendo vinte mil camas.
Se no tempo da administra챌찾o portuguesa Macau era um destino oriental exótico, do qual ficará apenas preservada a Pra챌a do Senado, as ruínas de S찾o Paulo e a zona adjacente por ter sido qualificada património mundial pela UNESCO, o futuro de Macau será o que decidirem os milh천es de jogadores que o visitam. Que enquanto se encantarem com a réplica do tecto da Capela Sistina na entrada do Venetian e passearem de g척ndola no seu interior como se estivesse num dos muitos canais de Veneza.
In DN
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