Mo챌ambique
Drama no Vale do Zambeze
Grant Lee Neuenburg/Reuters
A tragédia que todos os anos atinge milhares de moçambicanos voltou a repetir-se: desde Dezembro que a região do Vale do Zambeze está a ser fustigada pelas fortes chuvas sazonais, que causaram inundações gigantescas e mataram pelo menos dez pessoas. Mais de 68 mil pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas devido à subida das águas.
As popula챌천es rurais, principalmente na regi찾o centro, enfrentam aquelas que acabam de ser declaradas como as piores cheias na história do país pelos autoridades nacionais e pela ONU. As equipas de resgate, nacionais e internacionais, enfrentam grandes dificuldades e até as For챌as Armadas foram mobilizadas para ajudar.
Além do drama de perderam as suas casas, milhares de famílias deslocadas devido à subida das águas do rio Zambeze estão também a perder as suas culturas agrícolas (machambas). Numa região em que mais de 90 por cento da população vive da agricultura de subsistência, o cenário de catástrofe humanitária é já uma realidade. Famílias no distrito de Mutarara, em Tete, perderam as suas casas pela segunda vez num ano e algumas zonas que foram recuperadas após as cheias do ano passado já estão, de novo, debaixo de água.
A coordenadora-geral da Oikos em Moçambique, Claire Fallender, descreveu para o Correio da Manhã o drama que se vive nas regiões mais afectadas. "Além de enfrentarem a escassez de alimentos, as populações estão a perder as suas culturas, as reservas alimentares e os seus bens” – afirma, referindo que os meios operacionais são insuficientes. "As pessoas estão a ser resgatadas por equipas das agências de emergência do governo, com o apoio da comunidade humanitária e levadas para centros de reassentamento” – acrescenta.
Mas as equipas de resgate enfrentam dificuldades no processo de retirada de milhares de pessoas ao longo do Vale do Zambeze, porque algumas zonas apresentam-se completamente inacessíveis por via terrestre e fluvial. Isso mesmo confirmou ao nosso jornal o director-geral adjunto do Instituto Nacional de Gest찾o das Calamidades, Jo찾o Ribeiro: "No processo de resgate, a alternativa é o recurso a canoas e embarca챌천es com motor, mas mesmo estes meios t챗m tido muitas dificuldades porque existe imensos obstáculos formados por troncos, capim e algas que n찾o permitem uma rápida navega챌찾o das embarca챌천es". Aquele responsável acrescentou que "a falta de barcos anfíbios no país preocupa o governo que está a envidar esfor챌os para adquirir pelo menos mais dois". Mais de 300 militares foram destacados para apoiar nas opera챌천es de busca e salvamento.
João Ribeiro disse ainda que “o maior constrangimento nas operações se prende com as pessoas que não querem deixar as suas casas apesar de estarem inundadas, porque temem perder os seus bens e os animais".
"JÁ AJUDÁMOS MAIS DE 40 MIL PESSOAS": Claire Fallender, coordenadora da Oikos em Moçambique
Quantos elementos a Oikos tem a trabalhar nas regi천es inundadas?
Actualmente são 17 pessoas, todas moçambicanas. Onze são técnicos agrónomos. O coordenador do projecto é formado em Gestão Financeira com alta experiência em projectos logísticos. Existem dois membros portugueses da nossa equipa moçambicana em outros projectos, mas que fornecem apoio técnico ao programa nacional. A Oikos acredita no investimento de capital humano de Moçambique como parte de uma estratégia de desenvolvimento sustentável e, por isso, damos prioridade à equipa local.
Além do trabalho que a Oikos está a realizar devido às cheias, quais são os outros projectos da organização em Moçambique?
A Oikos trabalha em seis províncias de Moçambique. Em Zambézia e Tete – onde se localiza a nossa acção humanitária com vítimas das cheias – e Niassa, Nampula, Gaza e Maputo, província onde desenvolvemos actividades que promovem a segurança alimentar e vida sustentável para famílias rurais. Temos também um programa de prevenção e mitigação do impacto do VIH/SIDA, pois a taxa de incidência da doença chega a quase 30 por cento em algumas zonas. A Oikos já ajuda 11 676 famílias, correspondendo a 49 039 pessoas.
Como consegue a Oikos arranjar verbas para realizar as suas miss천es em Mo챌ambique? Quanto dinheiro necessita por ano?
Em termos de interven챌천es de ac챌찾o humanitária recebemos apoio financeiro da Uni찾o Europeia (principalmente da Echo), do Governo de Portugal, através do IPAD, e também de algumas funda챌천es e de particulares. Para a actual necessidade, a Oikos necessita de mobilizar mais de 384 mil euros para um período de quatro meses.
AJUDAS DE EMERGÊNCIA
A comunidade internacional tem apoiado o governo mo챌ambicano com verbas e equipamentos para fazer face aos inúmeros problemas provocados pelas cheias. A Comiss찾o Europeia atribuiu uma verba de dois milh천es de euros para ajuda de emerg챗ncia. As verbas s찾o atribuídas através de organiza챌천es parceiras da Comiss찾o Europeia, como a Cruz Vermelha Internacional e o Crescente Vermelho. O Programa Alimentar Mundial enviou 25 pessoas para as áreas mais afectadas e tem um helicóptero em Caia para transporte de ajuda alimentar e já come챌ou a distribuir 300 toneladas de alimentos. A Cáritas portuguesa lan챌ou uma campanha de recolha de fundos.
NÚMEROS
286 MIL pessoas vivem no Vale do Zambeze, assolado pelas cheias.
1874 pessoas foram nos últimos dias resgatadas no Vale do Zambeze por embarca챌천es e helicópteros.
22,8 milh천es de euros é o montante de que o governo necessita para enfrentar as cheias e as suas consequ챗ncias.
2,2 milhões de euros é o montante que o executivo moçambicano já disponibilizou para apoio às vítimas das cheias.
420 TONELADAS é a quantidade de alimentos do Programa Alimentar Mundial (PAM) disponível para os afectados pelas inunda챌천es.
45 é o número de pessoas que já morreu em Mo챌ambique, Z창mbia, Zimbabwe e Malawi por causa das cheias. Mas Mo챌ambique é o país mais afectado.
65 mil é o número de pessoas deslocadas dos seus locais de resid챗ncia para zonas menos afectadas.
NOTAS
DESCARGAS EM CAHORA BASSA
A barragem de Cahora Bassa, localizada junto a Tete, tem vindo a reduzir progressivamente as descargas de água, atingindo 5500 metros cúbicos de água por segundo.
ACESSOS INTRASITÁVEIS