PATRÃCIA VIEGAS
Annan medeia crise política entre Kibaki e Odinga
As negocia챌천es de paz come챌aram ontem no Quénia sob media챌찾o do ex-secretário-geral das Na챌천es Unidas, Kofi Annan, mas num clima de viol챗ncia quase incontrolável que fez quase mil mortos num m챗s.
"Existe apenas um Quénia. Nós temos todos identidades diferentes", disse Annan, citado pela AFP, no lan챌amento das negocia챌천es entre o chefe do Estado Mwai Kibaki e o líder da oposi챌찾o Raila Odinga.
Ladeado pelos dois rivais, o político ganês desvendou um plano negocial com duas etapas, cujo objectivo final é fazer o país mais desenvolvido da África Oriental regressar à normalidade de outrora.
A primeira etapa seria o envio do Exército para auxiliar a polícia no controlo das ac챌천es de viol챗ncia - um trabalho para quatro semanas. A segunda etapa seria uma solu챌찾o para as quest천es de fundo, ou seja, a disputa de poder desencadeada após as elei챌천es de 27 de Dezembro.
Num esforço coreografado, transmitido em directo pela televisão, segundo o jornal Guardian on-line, Kibaki e Odinga fizeram apelos à paz no lançamento das negociações. E concordaram nomear, cada um, três representantes-negociadores.
"Estou muito triste por ver os quenianos em confrontos violentos por causa de assuntos que podem ser discutidos e resolvidos pacificamente e através do diálogo", disse Kibaki, o Presidente reeleito em Dezembro sob acusa챌천es de fraude.
"Nós devemos dizer à população que hoje os seus líderes estão determinados a trabalhar juntos para resolver questões em suspenso. Algumas delas acompanham-nos desde a independência em 1963", declarou, por seu lado, Odinga, que acusa o campo presidencial de ter forjado uma vitória nas eleições.
Kibaki foi declarado vencedor por uma margem de 200 mil votos, depois de, inicialmente, o seu rival, do Movimento Democrático Laranja, ter sido indicado como o candidato que mais votos obtivera. Os observadores da Uni찾o Europeia denunciaram irregularidades e pediram uma investiga챌찾o independente.
A violência tomou, desde então, conta de parte do país. "Nairobi tem estado relativamente calma, mas a situação é muito tensa. A vida corre com alguma normalidade, mas algumas escolas estão fechadas, as pessoas têm receio, não saem à rua e tentam proteger-se", disse à Lusa o português Paulo Empadinhas, funcionário das Nações Unidas. A viver em Nairobi há sete meses, indicou que em Nakuru e Naivasha, no Oeste, "é que as coisas se complicaram".
Na capital queniana, pelo menos sete pessoas foram ontem mortas, entre as quais um deputado do partido de Odinga, Mugabe Were, atingido a tiro por dois homens quando entrava de carro no port찾o da sua casa. Já passava da meia-noite.
Na cidade de Naivasha, dois helicópteros dispararam ontem balas de borracha e gás lacrimogéneo para dispersar militantes de etnia kikuyu, a mesma de Mwai Kibaki, que tentavam atacar refugiados luo, a etnia a que pertence Raila Odinga.
Esta cidade produtora de flores, tem sido palco das maiores atrocidades entre etnias, gangues e vizinhos com contas para ajustar. A viol챗ncia já fez, além dos mortos, perto de 250 mil deslocados e refugiados. A Unicef diz que entre 80 mil e cem mil desses desalojados s찾o crian챌as com menos de cinco anos de idade. E acusa o Estado queniano de ser incapaz de proteger os civis.