Há dois anos, o respeitado historiador suí챌o Daniele Ganser publicou um livro assombroso. Produto de anos de pesquisa, “NATO's Secret Armies: Operation Gladio and Terrorism in Western Europe” documenta quase 50 anos de envolvimento da OTAN, em coordena챌찾o com a CIA, o Pentágono, o servi챌o secreto brit창nico MI6, o servi챌o secreto israelita Mossad e as polícias secretas de uma série de estados europeus na manuten챌찾o de exércitos clandestinos e terroristas em toda a Europa Ocidental.
Caracterizada em 1990 pelo jornal britânico “The Times” como “coisa que parece saída de romance policial”, a “operação Gladio” (“espada”, em italiano) incluiu assassinatos selectivos, tortura, intimidações e uma série de atentados de terroristas cometidos com o objectivo explícito de incriminar forças políticas de esquerda na Europa.
A documenta챌찾o apresentada por Ganser é impressionante.
Ganser demonstra que a OTAN comandou uma rede clandestina que operava em 18 países: EUA, Reino Unido, Itália, França, Espanha, Portugal, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Dinamarca, Noruega, Alemanha, Grécia, Turquia, Suécia, Finlândia, Suiça e Áustria.
Na Alemanha, ela recrutou ex-oficiais das SS. No capítulo dedicado à Itália, Ganser recompila a documentação que prova que o atentado de Peteano, que sacudiu o país em 1972 e foi atribuído à esquerda, na verdade havia sido cometido por um militante de um grupo de extrema-direita. Até aí nada novo, pão com manteiga.
No entanto, o que a pesquisa de Ganser demonstra é que esse grupo (Ordine Nuovo) actuava em estreita colaboração com os exércitos clandestinos mantidos pela “Organização do Tratado do Atlântico Norte”. Ganser também mostra a cumplicidade da OTAN com os atentados de 1954 no Egipto, inicialmente atribuídos aos mu챌ulmanos, mas de responsabilidade directa de agentes da Mossad, naquele que ficou conhecido como o caso Lavon.
N찾o foram poucas as vítimas dessa gigantesca opera챌찾o terrorista comandada a partir das altas esferas da OTAN (leia-se: CIA, Pentágono, MI6).
Só em Itália, foram, no mínimo, 491 mortos entre 1969 e 1980, boa parte deles vítimas de assassinatos ou ataques realizados com o objectivo de incriminar o poderoso Partido Comunista Italiano.
Essas brigadas clandestinas também tiveram papel central no apoio a golpes de estado de direita na Grécia e na Turquia, na elimina챌찾o de adversários políticos em Espanha e Portugal e no assassinato de Eduardo Mondlane, líder independentista mo챌ambicano.
Mesmo a opera챌찾o já sendo do conhecimento público há anos, somente em Itália, na Bélgica e na Suí챌a houve investiga챌찾o formal sobre a sua história.
Recomendo enfaticamente a leitura de uma entrevista com Daniele Ganser e a visita à sua página pessoal.
Escrito por Idelber
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