A reacção crítica dos seus companheiros de jantar não se deveu ao arroto – que, não sendo provocado, é muitas vezes impossível de conter –, mas aos seus ‘com licença’ (alguns abreviam para ‘cença’, como se fosse mais elegante) e ‘perdão’.
Não há nada mais piroso do que andar por aí a atirar essas palavras. Um ‘dá-me licença’, num aperto do metro, para sair numa estação, admite-se. O ‘perdão’ associa-se à penitência e ao arrependimento religiosos. Em linguagem social usa-se ‘desculpe’.
Mas, apesar de lhe oferecer esta inesperada e útil li챌찾o, sei que o problema que o leitor tem em mente é outro. Evidentemente que n찾o se deve andar por aí a arrotar.
Agora o problema é se o arroto escapa, como lhe aconteceu a si. O ideal é almofadar o ruído – e o cheiro, porque os há nauseabundos –, com o guardanapo, um lenço ou a própria mão. E disfarçá-lo com discrição, em vez de o enfatizar com ‘com licenças’.
A avó de uma prima minha, que sofria de incontrolável aerofagia – que lhe saía, sonora, nas alturas mais embaraçosas, como na missa ou à mesa –, usava um estratagema: por cima do arroto, atirava um tossicar forçado, e desabafava para o lado, baixinho: «Maldita tosse». Não enganava ninguém, mas era um estratagema divertido e uma saída airosa.