Joanesburgo, 23 Mar (Lusa) - A decisão do presidente zimbabueanode permitir a presença de polícias junto das urnas de voto "para auxiliar eleitores analfabetos e com limitações físicas" é uma traição à Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral acusam políticos e analistas.
Depois de os dirigentes da oposi챌찾o se terem insurgido contra as altera챌천es ao processo eleitoral introduzidas por Robert Mugabe, salientando que o alto comando da polícia é cem por cento fiel ao presidente e ao seu governo, vários analistas v챗m agora alertar para os riscos de manipula챌찾o dos votos e dos votantes e do potencial de viol챗ncia que esta decis찾o encerra.
O governo de Robert Mugabe tinha acordado com a oposição (Movimento para a Mudança Democrática - MDC), sob a mediação do presidente da África do Sul, que agentes da polícia e das forças de segurança deveriam manter-se a pelo menos 100 metros das assembleias de voto no dia 29 de Março, quando o povo zimbabueano for às urnas eleger o presidente, os deputados ao parlamento e as autoridades locais e regionais.
John Makumbe, analista político e académico, exortou a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) a denunciar a "traição" de Mugabe aos acordos alcançados sob a égide do organismo regional e a condenar o presidente zimbabueano pelas suas iniciativas.
"A SADC deveria condenar Mugabe e garantir que ele vai respeitar os acordos previamente assinados. N찾o podemos ter uma polícia partidária nas mesas de voto. Eles [os polícias] s찾o meras correias de transmiss찾o da máquina fraudulenta da Zanu-PF [o partido de Mugabe]", disse Makumbe.
Políticos da oposi챌찾o e analistas recordam que quer o comissário nacional da polícia, Augustine Chiuri, quer o comandante-em-chefe das for챌as armadas, general Constantine Chiwenga, afirmaram nos últimos dias, em ocasi천es diferentes mas utilizando praticamente a mesma terminologia, que nunca será permitido no Zimbabué que "fantoches do ocidente" [referindo-se ao candidato da oposi챌찾o Morgan Tsvangirai e ao candidato independente Simba Makoni] governem o país.
O maior partido da oposi챌찾o (o MDC) acusa as for챌as policiais de desempenharem um papel fundamental na deturpa챌찾o dos resultados eleitorais e na intimida챌찾o de eleitores, alguns deles analfabetos, sobretudo nas zonas rurais.
"A polícia é claramente utilizada como arma de intimida챌찾o na agenda de reten챌찾o do poder da Zanu-PF e a legaliza챌찾o da sua presen챌a nas assembleias de voto é prova disso. Em segundo lugar é inaceitável, do nosso ponto de vista, que Mugabe, um participante nas elei챌천es, possa alterar as regras do jogo quando ele está a ser jogado", afirmou em comunicado o MDC.
Entretanto, aumentam no Zimbabué e na região os receios de que as alterações às regras eleitorais provoquem uma explosão de violência.
Mergulhados numa crise económica avassaladora desde há oito anos, que resultou numa inflação superior a 100 mil por cento ao ano, uma taxa de desemprego superior a 80 por cento e uma escassez crónica dos bens mais elementares, os zimbabueanos poderão, segundo muitos observadores, sair às ruas em protestos provavelmete violentos se os resultados eleitorais não corresponderem às suas expectativas.
O influente grupo cívico "Assembleia Nacional Constituinte", com a sigla NCA, apelou na sexta-feira à polícia e ao exército para que não respeitem as ordens dos seus comandantes e coloquem os interesses da nação e dos cidadãos acima de tudo.
"Voc챗s ouviram os vossos comandantes declarar que n찾o saudar찾o nem apoiar찾o mais ninguém a n찾o ser o actual presidente, mas foi este presidente e a sua elite que fizeram das vossas vidas, das vossas famílias e das de todos nós uma miséria diária", recordou a NCA.
Esta coliga챌찾o de grupos defensores dos direitos humanos, que centra a sua actividade na aprova챌찾o de uma nova Constitui챌찾o para o país, apelou aos agentes das for챌as de seguran챌a para que, em caso de conflito, "larguem as armas e se coloquem ao lado do povo na tarefa de reconstruir a na챌찾o e promover o desenvolvimento".
AP
Lusa/fim