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General: João Monge, um escritor de três minutos
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De: misabelantunes1  (Mensaje original) Enviado: 03/05/2008 02:58
João Monge, um escritor de três minutos


Um escritor de tr챗s minutos
Jo찾o Monge escreve letras para os Ala dos Namorados. Estreou-se com os Trovante, ganhou fama e proveito com o Rio Grande e hoje é disputado pelos melhores intérpretes de can챌천es, mas quer continuar a viver clandestino.
Autores - Ainda tem ecos dos Loucos de Lisboa?

João Monge - Nem por isso, é uma letra que já não aprecio muito. À medida que o tempo passa, conseguimos distanciar-nos do nosso trabalho e somos capazes de apreciá-lo como se não fosse nosso. Mas ainda gosto da "Lua de Todos".
A - E das outras letras?

JM - Tenho fases. Há um momento em que damos a letra por acabada, colocamos o ponto final, assumimos que n찾o podemos dar mais um átomo para aquilo. Dentro das possibilidades de cada um, está feito e está bom. Depois passamos a uma fase de enamoramento, lambemos a cria, ficamos a contemplar a obra, confirmamos se está tudo no lugar.
A - E quando é que se pode deixar de gostar do trabalho que uma vez acabado é bom?

JM - Com o decorrer do tempo. Quando guardamos um certo distanciamento, podemos dizer que desta letra ainda gosto e daquela gosto menos, ou nada, ou podia ter feito algo diferente.
A - Renega alguma letra?

JM - Isso nunca, tudo o que fiz, foi o melhor que podia fazer naquele momento. Desse ponto de vista, vivo tranquilo.
A - Para escrever letras é preciso saber música?

JM - Eu não sei se escrever canções implica ter conhecimentos de música, mas os letristas que eu conheço, aprecio e admiro têm uma forte ligação à música Eu próprio tenho formação musical. Comecei com oito anos nas aulas de guitarra clássica e depois frequentei a Escola de Música do Hot Club de Portugal. Toco guitarra há muitos anos.
A - Queria ser músico?

JM - Os meus estudos musicais foi só por fartura de casa. Mas curiosamente comecei a fazer letras sem música.
A - Poemas?

JM - N찾o, n찾o. Nessa época descobri que para além da música das palavras há a possibilidade de as palavras sobreviverem em tempos e compassos. Um poema sobrevive no papel branco, sem mais nada, é lá o sítio dele.
A - Ent찾o o que é a letra?

JM - A letra da canção é diferente. O Carlos T. escreveu uma letra para o Rui Veloso onde diz que a canção é um poema ajudado. Eu penso que a letra da canção não sobrevive em papel branco e é passível de servir à voz humana. Por isso eu acho que ter conhecimentos de música é importante para um letrista. Mas há poemas que foram escritos como tal e são excelentes letras.
A - O poema é para ler?

JM - Exactamente. Um poema pode ser lido durante meia hora que não cansa, mas uma letra se tiver mais que três minutos é um peixe espada. Não passa pela cabeça de ninguém recitar uma letra minha. Nós à partida, quando escrevemos uma canção, temos o espartilho do tempo. Se uma canção é longa, a malta muda de posto. Como só escrevo letras para canções, sou um escritor de três minutos. É só rapidinhas.
A - Já pensou escrever mais do que can챌천es?

JM - Nunca fui desafiado para outros projectos das artes do espectáculo, para além das can챌천es. Mas estou aberto a tudo. Desde que me d챗 pica, porque n찾o?
A - E as palavras das letras, tem preocupa챌천es especiais?

JM - Só tenho a preocupa챌찾o de deixar na letra um pouco de mim, da minha forma de pensar, da minha maneira de lidar com os afectos, com os outros e com o mundo. Isto independentemente do género da can챌찾o ou do meu cantor. Isto deriva da minha forma챌찾o: quando escrevo, gosto de estar dentro dos meus sapatos.
A - E quais s찾o os seus sapatos?

JM - Sou um tipo que viveu o 25 de Abril com 17 anos, aquela alegria, a grande festa e apesar do desencanto, ainda acredito que só com um azar muito grande é que voltamos às cavernas. Estou certo que depois da maré vasa há-de vir a maré cheia.
A - A maré está vazia ?

JM - Está, pois. Mas isto não é o fim, há coisas hoje adquiridas que há 40 anos eram impensáveis. Por exemplo, estarmos aqui a falar sem medo do lápis da censura. Olhe, se não fosse o 25 de Abril hoje não seria letrista, à primeira ia logo preso. Sei lá o que seria de mim! Se calhar borrava-me de medo e nem destapava a caneta.
A - O projecto Rio Grande deu-lhe mais notoriedade?

JM - Bom, continuei clandestino, mas foi um projecto muito importante para mim. Sou autor de quase todas as letras.
A - E para quem escreve mais?

JJM - Escrevo para o pessoal de quem gosto. Sou um amador. A minha profissão é professor de Educação Visual e Tecnológica. Não sou obrigado a ir a todas e a fazer coisas de que não gosto ou trabalhar com quem não me interessa. Para além dos Trovante, dos Ala dos Namorados e do Rio Grande trabalhei com a Mízia, Ana Sofia Varela, Camané, Carlos do Carmo.
A- Gosta de trabalhar com fadistas?

JM - Gosto, porque também gosto muito de fado. É uma forma de cultura popular urbana com uma preocupação muito grande com as letras e os intérpretes. O fado, do ponto de vista harmónico e do arranjo, evoluiu muito. Fui ver o último espectáculo ao vivo do Camané e as linhas da guitarra, o baixo e a viola, tudo aquilo era de fechar o comércio.
A - O fado está mais aberto?

JM - Muita gente pensa que o fado é uma maçonaria musical de uns tipos que se embebedam e comem linguiças às quatro da manhã em Alfama. Não é nada disso, o fado tem uma imensa capacidade de se mover de fora para dentro e tem chamado imensa gente que nunca imaginei ver no fado.
A - Quem, por exemplo?

JM - O José Mário Branco. O trabalho que ele tem feito com o Camané é excepcional. Ser moderninho é fácil, mas ser contempor창neo e dizer sempre algo de novo só está ao alcance dos excepcionais. O José Mário Branco revelou isso no seu último disco e deu outra dimens찾o ao fado do Camané.
A - Fazer letras é compensador sob o ponto de vista económico?

JM - Não dá para viver exclusivamente das canções. Com o Rio Grande ganhei para mudar de sapatos, mas como isto é um trabalho contínuo, no próximo disco pode ser que nem os meus familiares o comprem e então não dá sequer para ir ao supermercado. E numa altura de crise, as pessoas cortam logo nos discos e nos livros. Os produtos culturais ficam em último plano. Portanto é melhor fiar-me no meu ordenado de professor e não pensar no que o próximo disco vai vender para ir à mercearia.
A - Encara a hipótese de trabalhar com novos artistas?

JM - As coisas n찾o se podem p척r assim. Eu sou amador e por isso posso dar-me ao luxo de fazer o que me dá na bolha e com quem escolho. Eu sei que o ordenado de professor também n찾o dá para viver, mas dar a mim próprio o privilégio de escrever letras para quem gosto, é uma forma de compensar os problemas do quotidiano.

PERFIL
O Professor das Cantigas
Jo찾o Monge nasceu em Lisboa a 1 de Agosto de 1957. Fez estudos musicais entre os 8 e os 30 anos, um bacharelato na Universidade Aberta e forma챌찾o profissional na Escola Superior de Educa챌찾o de Setúbal.
Entrou para o ensino há 20 anos mas não fez a via sacra dos professores até se profissionalizar: "Quando percebi que ia andar de terra em terra resolvi arranjar casa junto à escola onde fui colocado a primeira vez e bateu certo. Andei sempre pela margem sul e tornei-me um lisboeta suburbano". Hoje dá aulas de Educação Visual e Tecnológica na escola do Feijó. Os seus alunos são jovens dos 10 aos 15 anos.
Come챌ou a fazer letras para os Trovante, depois alimentou de cantigas os Ala dos Namorados e atingiu o auge no projecto Rio Grande. De ent찾o para cá tem escrito para vários autores, sobretudo fadistas.
Estudou guitarra clássica durante vários anos e frequentou a Escola do Hot Club. Não lhe falta trabalho, mas apesar disso diz não ter a veleidade de viver apenas das letras. "Isso é impossível. Mas já que não posso dedicar-me apenas à música, então só trabalho com quem quero".
A festa da sua vida foi o 25 de Abril, há 30 anos: "Foi mais que uma festa, foi a descompress찾o. Eu estava a tr챗s anos de decidir se ia ou n찾o fazer a guerra colonial. A realidade do país n찾o me passava ao lado e, embora n찾o tenha um passado glorioso, jamais aceitei o regime".
Em resumo: João Monge continua a trabalhar nas cantigas e a dar aulas mas o que gostava mesmo de fazer era enveredar pela música a tempo inteiro. Só que o meio musical do país ainda não absorve a tempo inteiro os "escritores de três minutos" e ele tem de continuar a ser um professor emprestado às cantigas


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De: misabelantunes1 Enviado: 03/05/2008 03:12
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Rio Grande, para tocarem "A Fisga" e "Postal dos Correios"....Rui Veloso Pavilh찾o Atl창ntico 10.11.2006 Rio Grande Fisga Postal Correios Concerto de Rui Veloso no Pavilh찾o Atl창ntico, Lisboa, dia 10 de Novembro de 2005, comemora챌찾o de 25 anos de carreira de Rui Veloso. "Os V챗s Pelos B챗s" encheu o Pavilh찾o Atl창ntico para um concerto espectacular. Participa챌찾o de Vitorino, Jo찾o Gil, Tim e Jorge Palma, reconstituindo o grupo Rio Grande, para tocarem "A Fisga" e "Postal dos Correios". (mais) (menos)


 
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