Mulheres pesam cada vez mais na política africana
PAULA SÃ BORGES
Mudan챌a. Ao ter o primeiro governo africano maioritariamente composto por mulheres, Cabo Verde chamou a aten챌찾o para o poder das mulheres. Estamos a viver uma mudan챌a social? Existe uma feminiza챌찾o do poder? Boutros-Gali disse que "mais poder para as mulheres é mais poder para a humanidade"
Historiadora angolana problematiza um fenómeno recente
"A análise da passagem das mulheres por lugares de extrema import창ncia n찾o me permite afirmar que há um antes e depois uma altera챌찾o significativa. Se isso acontecesse, notar-se-ia, sobretudo, quando falamos de países africanos." O desabafo é de Ana Paula Tavares, poetisa e historiadora angolana.
Tanto Ellen Johson-Sirleaf, presidente da Libéria (a primeira mulher chefe de Estado em África), como Luísa Diogo, primeira-ministra de Moçambique, têm um percurso político ligado às finanças.
Ellen, mãe de cinco filhos, avó de seis crianças, licenciou-se em Economia na prestigiada Universidade de Harvard e derrotou o ex-futebolista George Weah numa eleição que deu luta. Foi ministra das Finanças, funcionária sénior do Banco Mundial, directora do escritório do PNUD para África, vice-presidente do Comité Executivo do Equator Bank.
Luísa Diogo, também economista, foi considerada, em 2004, pela revista Forbes, uma das 100 mulheres mais poderosas do mundo. Exerceu o cargo de ministra do Plano e Finan챌as a partir de 1990 e, em 2003, com a demiss찾o de Pascoal Mocumbi, passou a acumular a pasta com as fun챌천es de primeira-ministra. Em Fevereiro de 2005, foi nomeada para a chefia do Executivo.
Considera Ana Paula Tavares que "o facto de elas serem mulheres das Finan챌as e da Planifica챌찾o torna mais claros os motivos porque foram escolhidas".
Em Cabo Verde, esta área está também a cargo de mulheres. Cristina Duarte é ministra das Finan챌as no primeiro Governo africano maioritariamente feminino e a Fátima Fialho foi entregue a pasta da Economia, Crescimento e Competitividade. "Com a crise mundial, a presen챌a de mulheres nos centros de decis찾o pode ser decisiva", afirma António Ludgero Correia. Este analista político real챌a que "nesta legislatura o primeiro-ministro tem privilegiado a entrada de senhoras nas suas equipas".
É natural que isso aconteça no Executivo, no Parlamento e nas câmaras, defende, já que "mais de 50% da população das ilhas é feminina. Não é um favor. São quadros qualificados de reconhecido valor no mercado".
Em Cabo Verde, salienta o especialista em forma챌찾o de quadros da Fun챌찾o Pública, "a presidente da Assembleia Municipal da Praia é Filomena Delgado e há duas presidentes de autarquias: Isaura Gomes, em S. Vicente, e Vera Almeida no Paul.
Nas elei챌천es locais de Maio, houve um movimento amplo de mulheres que promoveu encontros com todos os partidos e exigiu 1/3 de elementos femininos em todas as listas autárquicas. "Isto é um processo que passa pelo reconhecimento das capacidades e que pode levar-nos ao que acontece no Ruanda, onde mais de metade dos deputados da Assembleia Nacional s찾o mulheres."
Moçambique destaca-se a este nível com uma representação superior a 30%. Em Angola, sublinha Ana Paula Tavares "a influência das mulheres é muito significativa nos postos médios, nas províncias. O seu papel é decisivo na saúde, no apoio às vítimas."
Em S. Tomé e Príncipe, duas mulheres já chefiaram o Executivo e várias foram ministras mas n찾o conseguiram imprimir mudan챌as. Aqui como noutros países, remata a poetisa e historiadora, "resta saber se isso aconteceu porque n찾o tinham projecto ou porque n찾o tiveram condi챌천es para concretizá-lo."|