N찾o sabia que fazer nesta tarde de Inverno fria e chuvosa, e resolvi vir conversar um bocado contigo. Sei que me entendes, que me compreendes, pois ambos nos debru챌amos juntos naqueles chatérrímos livros de matemática, portugu챗s, e tu sempre estiveste junto comigo, e eu sei que por vezes te maltratei quando as coisas n찾o corriam como eu queria, ent찾o me vingava em ti te fazendo em tiras... E a ardósia tinha de fazer tudo que nós queríamos, senão zumba, lá lhe passávamos com água por cima... Mas aquilo por vezes dava cabo do miolo á malta, para que seriam todos aqueles rios, vales e montes, montanhas, se não tínhamos nem sandálias quanto mais botas para subir tudo aquilo?! Lembravam-se de cada coisa... E a história? Para que tínhamos nós de conhecer toda aquela cambada que tínham tantos aios e criadagem e não nos davam nada? Eram tantos, não eram?... E nós pobres de pé descalço, tínhamos de saber todos os seus nomes, e eles nem sequer sabiam que eu era a pequena Maria, que todos os dias olhava para eles, esperando que reparassem em mim... Pobre ignorante, só mais tarde eu viria a saber que eles viviam lá bem no alto, e nem queriam saber se nós cá de baixo sabíamos quem eles eram, uma injustiça!
E depois aquele livro cheio de raízes quadradas, com tantos números que eram perfeitas charadas... Vezes, dividir, bem, esse estava certo, agora multiplicar? Mas se nem o pão eles multiplicavam, para que servia toda aquela porcaria... Francamente eu não entendia, mas minha professora me batia, e dizia, estuda, tens de aprender tudo isso para seres uma grande pessoa... Uma grande pessoa, que quereria ela dizer com isso?! Bolas, enganei-me, ao apagar esta porcaria, lá se me foi o resto da borracha que tinha, e agora... Ora, ficava assim, logo se veria!
Mas o que eu gostava mesmo, era aqueles arabescos que se chamava "solfejo", o dó, o ré, o mi, o si...Como eu gostava, muito, só que como não tinha um piano meu, tinha de tocar no que havia lá naquela casa, mas era bom, era o que eu mais gostava de fazer, mas nunca podia estar muito tempo, logo me diziam que tinha de dar a vez a outra... Ã, dividir, era esse o resultado da matemática... Dividir, e sempre tive de dividir tudo...
Pronto, já estas cansado de me ouvir, tá bem, amanhã falamos mais, de quê? Não sei, mas logo se vê!
S찾o Percheiro