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CONTOS: HISTÓRIAS DO CHEFE BONAIA - POR GRAZIELA VIEIRA
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De: e-petromax  (Mensaje original) Enviado: 18/09/2007 20:59
  1. HISTÓRIAS DO CHEFE BONAIA




Todas as tardes eu ia visitar o chefe Bonaia

Era um simpático octogenário muito querido e respeitado pelos habitantes de Maniamba, um pequeno aldeamento, a norte de Mo챌ambique, do qual era Régulo.

A sua carapinha branca, lembrava-me os planaltos da minha longínqua Trás-os-Montes quando no Inverno a neve a cobria de branco, qual puríssimo vestido gigantesco de noiva.

Quando eu chegava, já a cadeira que me era destinada, se encontrava paralela à do chefe que me esperava com um sorriso aberto nos lábios carnudos, deixando ver, através dos mesmos, uma invejável fileira de alvíssimos dentes perfeitos.


Falava muito bem o Portugu챗s embora por vezes entrecortado de algumas frases nativas que se apressava a corrigir.

Em frente da sua palhota, e à sombra de um grande cajueiro, ele levantava-se cortês para me cumprimentar. Notava-se que a sua cortesia não era sinónimo de subserviência, como qualquer pessoa mais desatenta, poderia supor devido à sua pobre indumentária que há muito deveria ter conhecido dias melhores.

Embora as nossas modestas moradias só estivessem separadas por cerca de vinte e cinco metros, e nos víssemos todos os dias, os cumprimentos eram sempre bastante demorados perguntando, cada qual, por todos os elementos da família. Depois de uma de suas mulheres nos servir uma chávena de chá “príncipe”, um chá muito perfumado que lembrava a nossa erva-cidreira; o chefe Bonaia encostava-se na cadeira, semicerrava os olhos e ficava assim por longos momentos. Eu aguardava pacientemente que ele saísse daquela espécie de torpor, e nem me atrevia a respirar mais fundo com receio de quebrar aquele encantamento. Enquanto o contemplava, perguntava a mim mesmo se ele se daria conta do fascínio que, a sua figura quase mitológica, exercia sobre mim. Eu que nunca invejei nada na vida, invejava aquele venerável ancião negro quase analfabeto. Invejava sobretudo a sua riqueza interior, o seu sentido de justiça e humanitarismo, e, acima de tudo as suas muitas experiências, que ao longo dos anos foi acumulando, e que agora parecia reviver naquelas tardes calmas; apercebendo-se que tinha uma ouvinte assídua e deveras interessada nas suas histórias que refutava de autênticas.

Quem era eu para por em dúvida as suas sábias palavras?

Abriu lentamente os olhos e come챌ou a dizer:

Quando eu era mufana, “criança” apareciam por aqui uns homens brancos à caça de elefantes e demoravam-se por cá alguns dias. Como estávamos longe do mar, o peixe fresco não havia. Um dia, estava o meu pai a pescar no lago Niassa,…a senhora sabe, aquele lago que dizem que tem tantos quilómetros de comprido como de dias tem o ano e tantos de largo como de semanas também tem o ano mas que é de água doce mas tem muito peixe: Pois a dada altura, dois dos caçadores brancos, um inglês e outro português, resolveram ir pescar também para o mesmo sítio. Como o meu pai se estava a sair bem com a pescaria, pois já tinha uma boa quantidade de peixe no cesto, e os dois brancos apesar do esforço, ainda não tinham um único para amostra, o português acercou-se do meu pai e disse:



- Ouve lá preto dum raio, tens que me ensinar o feiti챌o para apanhar tanto peixe como tu.

O meu pai disse que n찾o era feiti챌o nenhum mas simplesmente que estava com sorte.

- Ai é?...Ent찾o vai para outro lado longe de mim porque esse lugar passa a ser meu. Como o meu pai n찾o quisesse sair, ele disse:

-Desaparece, sen찾o levas tamanho murro que ficas com o nariz voltado para o lado das costas.

O meu pai levantou-se e foi para outro lugar, onde havia um penhasco, e que ficava a uns cinquenta metros dali.

O ingl챗s n찾o tinha aberto a boca mas vendo que meu pai continuava a apanhar bom peixe, tentando imitar o portugu챗s, disse também:

-Sai daí que esse lugar é meu.

O meu pai disse que havia muitos lugares bons e o ingl챗s sem ripostar afastou-se cinco ou dez metros e come챌ou a pescar. Eu que assistia a tudo, fiquei a pensar em como o ingl챗s era bem mais simpático que o portugu챗s.

Passado algum tempo, o meu pai escorregou do penhasco e caiu à água que era bastante funda naquele sítio. Como não soubesse nadar, estava prestes a afogar-se.

Perante os meus aflitivos gritos de socorro, o ingl챗s que estava perto, encolheu os ombros e continuou, imperturbável, a pescar. O portugu챗s, que n찾o se tinha apercebido de nada, come챌ou a gritar comigo para que n찾o fizesse barulho porque espantava os peixes. Transido de medo, só muito dificilmente pude apontar o local onde o meu p찾o havia caído. Ele olhou, descal챌ou rapidamente as botas grosseiras, e sem pensar duas vezes, lan챌ou-se á água de onde minutos depois, que me pareceram séculos, trouxe o meu pai já morto, segundo a mim me parecia.

Deitou-o na margem e tentou todos os recursos que sabia para o fazer voltar à vida. Eu assistia mudo de espanto a certa distância como se os meus pés tivessem ganho raízes no chão e fiquei ainda mais impressionado quando o vi fazer respiração boca a boca. Aos poucos o meu pai começou a dar sinais de vida para minha alegria.

A certa altura o portugu챗s gritou-me:

-Olha lá ó farrusco, ajuda-me aqui a levá-lo para a sombra, sen찾o ainda fica mais torrado que café. O ingl챗s continuava a pescar com total indiferen챌a do que se estava a passar. O meu pai recompunha-se rapidamente, para minha alegria pois pensava que já o tinha perdido para sempre.

Antes de se ir embora, o portugu챗s deixou-nos metade do peixe que havia pescado pois que na queda para a água o meu pai arrastara com ele o cesto onde guardava todo o pescado. Quando voltávamos para casa, o meu pai disse-me:

-Nunca esque챌as esta regra: foge sempre do c찾o que n찾o ladra porque é esse que morde. Seguindo-se a descri챌찾o da moral da história.

Despedi-me do chefe Bonaia que me havia prometido outra história para o dia seguinte como se tratasse das histórias das mil e uma noites.

Graziela Vieira

Ourém, 21/2/92




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De: cafe-zambeze Enviado: 01/08/2008 03:09

HISTÓRIAS DO CHEFE BONAIA



 
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