02-08-2008 12:16:51
Sul-africano aposta no biodiesel e prospera em Mo챌ambique Por Pedro Figueiredo, da Ag챗ncia Lusa
Inhassume, Mo챌ambique, 2 ago (Lusa) - O sul-africano Renier van Rooyen ampara sorridente, na palma da m찾o, um cacho verde, feito de volumosos bagos: é a jatropha, também conhecida como pinh찾o-manso.
Deste fruto n찾o-comestível, se extrai óleo para fabricar biodiesel. Dentro de dois anos, o corpulento agricultor estará colhendo 12 mil hectares de jatropha em sua fazenda em Inhassune, localidade remota no interior da província de Inhambane, no sul de Mo챌ambique, cerca de 450 quil척metros a norte de Maputo.
Antes mesmo de iniciar a produção, a Bio África, empresa proprietária e gestora da exploração, já tem comprador para toda sua lavoura.
A petrolífera moçambicana Petromoc receberá o óleo e fará o refino. Outros grandes clientes internacionais, como BP e Shell, já lhe bateram à porta na expectativa de adquirirem o que o mercado local não for capaz de absorver, à medida que o projeto for crescendo.
N찾o admira, por isso, a sonora gargalhada do agricultor ao ser perguntado sobre a estimativa de lucros para quando a fazenda estiver produzindo 36 milh천es de litros de biodiesel: "muito", se limita a dizer.
Descendente de holandeses que chegaram à África do Sul no século 17 e se dedicaram em gerações sucessivas à agricultura, Renier van Rooyen é um dos pioneiros no desenvolvimento de biocombustíveis em Moçambique - indústria em que as autoridades do país planejam apostar.
Calvo e de bigode farto, vestindo cal챌천es bege e com sapatos estilo "croc", Renier van Rooyen já se tornou um dos maiores produtores mundiais de pinh찾o-manso que, em um futuro próximo, pode se tornar a principal matéria-prima para a fabrica챌찾o de biodiesel.
Para isso, o agricultor tem investido todo seu tempo no aperfei챌oamento genético da planta, até aqui selvagem e pouco conhecida, para que cres챌a cada vez maior e com cada vez mais frutos.
"Precisamos de 90 a 100 ramos, o que nos dá 90 a 100 cachos de fruta em cada árvore. Assim estaremos fazendo bom negócio", calcula.
"Acho que, no mundo, ninguém está produzindo pinh찾o-manso na escala em que estamos. Temos mais de cinco mil dos 12 mil hectares da fazenda já plantados, com a possibilidade de nos ser concedida uma outra explora챌찾o de 20 mil hectares. Nas Filipinas e na Indonésia plantam tr챗s, quatro hectares. Por isso, acho que sim, somos pioneiros", diz com orgulho, acrescentando que 10% da terra é liberada para que os trabalhadores desenvolvam suas próprias culturas alimentares.
Em Pretória, de onde é originário, Renier van Rooyen tem uma fábrica de fertilizantes operando, mas é em Inhassune que, há quase tr챗s anos, se concentra: emprega 1.200 trabalhadores em tempo integral, cada um dos quais tem um peda챌o de terra para desenvolver a sua própria cultura familiar, iniciou um programa de alfabetiza챌찾o de adultos com aulas de portugu챗s em um dos celeiros da quinta e outro para a erradica챌찾o da malária. O produtor injeta US$ 85 mil por m챗s em salários, em uma regi찾o onde ter um emprego formal era uma miragem.
"Começamos do nada. Estas pessoas estavam sentadas debaixo das árvores, ninguém trabalhava havia 20 anos. Dois anos e meio depois, plantamos cinco mil hectares de árvores, temos 1.200 pessoas trabalhando. É uma grande mudança", compara o agricultor sul-africano, enquanto ziguezagueia seu jipe Toyota por entre uma imensidão de ramos secos - as plantas de jatropha estão podadas nesta época do ano.
Alguns quilômetros na direção oposta, percorrendo um caminho de terra vermelha - a principal estrada asfaltada, que liga o sul ao norte do país, fica a mais de 70 quilômetros de caminho de terra batida -, chega-se à minúscula vila de Inhassune.
A casa de Renier van Rooyen está perto do centro, no caminho que conduz ao cora챌찾o da explora챌찾o agrícola.
À porta está um mastodôntico leão da Rodésia (raça de cães anormalmente corpulentos proveniente da África do Sul). Dentro está uma casa onde não falta nenhum dos confortos da civilização, incluindo internet de banda larga, que recebe por satélite e por onde chega também a televisão. No fundo da casa, uma escola particular totalmente equipada garante a continuação dos estudos de suas duas filhas.
Mas o qu챗 fez o produtor deixar a fábrica de fertilizantes em Pretória para produzir biocombustíveis nos confins de Mo챌ambique?
"Há uns 10 anos, assisti a um congresso sobre sustentabilidade na África do Sul que me deixou pensativo. Percebi que, no futuro, haveria um mercado para a fabricação de diesel a partir de óleo vegetal e tomei a decisão de usar um óleo não-alimentar. Depois, pesquisei e descobri que a jatropha é o óleo que faz o melhor diesel do mundo. Depois, foi escolher o local. Aqui havia infra-estrutura e trabalho suficiente. Quando há estas duas coisas, o resto se faz", relata.
O governo mo챌ambicano tem mostrado receptividade para a aprova챌찾o de projetos de produ챌찾o de biocombustíveis no país, que n찾o t챗m parado de surgir.
Este ano, por exemplo, a Geocapital, do empresário macaense Stanley Ho, anunciou que investiria até US$ 40 bilh천es nos próximos dez anos na produ챌찾o de biocombustíveis em Angola, Mo챌ambique e Guiné-Bissau, com uma produ챌찾o que deve atingir a capacidade de 14 milh천es de toneladas anuais.
Um estudo recentemente divulgado, realizado pela empresa norte-americana Econergy, revelou que Mo챌ambique tem "grandes potencialidades" para se tornar um importante exportador mundial de biocombustíveis - dado o ainda diminuto consumo doméstico de combustíveis -, com 27 milh천es de hectares de terras férteis, das quais entre 6,5 milh천es e 15 milh천es podem ser usados para produzir biocombustíveis, em especial jatropha e cana-de-a챌úcar.
O governo mo챌ambicano deverá, em breve, divulgar a vers찾o final de sua estratégia para o desenvolvimento deste negócio no país.
Renier van Rooyen antecipou-se e seu principal desafio é desenvolver comercialmente uma cultura pioneira.
"Ainda estamos aprendendo. Ninguém sabe o suficiente desta colheita. Não é como o milho, sobre o qual existem 300 ou 400 anos de experiência. Tudo é novo. Desde a produção de sementes, os genes da árvore, como é que vão reagir à poda. Todos os dias, aprendo alguma coisa. Estamos constantemente aprendendo, melhorando os nossos métodos de cultivo e produção, injetando novas tecnologias", comenta.
O agricultor sul-africano n찾o ignora, porém, o debate sobre o impacto da produ챌찾o de biocombustíveis na seguran챌a alimentar.
"O debate sobre alimentos e biocombustíveis não faz nenhum sentido. A produção agrícola na África é feita de maneira tão antiquada que, apenas aperfeiçoando os métodos de produção, poderíamos aumentar em cinco ou seis vezes as colheitas. É impossível a um homem com um boi e uma charrua arar mil hectares de terra. Por isso, mesmo se lhe dermos mil hectares, ele não vai conseguir fazer nada com eles. Até parece que não há pessoas morrendo de fome em Moçambique", rebate.
"Não estamos prejudicando o meio ambiente, não estamos roubando terras da produção de alimentos, não estamos tirando comida das pessoas. [...] Acho que fazemos muito mais pelos pobres da África do que essas pessoas que dizem para não se plantar biocombustíveis".